“Camargos”


 

 Camargos e como, segundo Carvalho Franco, eram chamados os membros de uma família, originária da região Cantábrica que se localizava nas montanhas de Burgos, norte da Espanha.

          Permaneceram eles muito tempo na povoação de Camargo, de onde lhes veio o apelido, e desde o século XII deram origem a novos ramos que se tornaram fundadores de outras tantas casas espalhadas pela Espanha, por quase toda Europa e, finalmente, na América. Espalharam-se de forma tão acentuada em seu país de origem, que em sua linhagem se contam grandes militares, aventureiros,  dignitários, eclesiásticos e seculares. Brasões com suas armas foram encontrados esculpidos em muitos monumentos e descritos em vários tratados que se preocuparam com este assunto, desde o século XIV, de que data a sua mais  remota referência.

Entre os Camargos houve guerreiros cujo renome consta de vários documentos. Alguns ocuparam cargos de relevo junto à corte da  Espanha, outros sobressaíram-se nos descobrimentos marítimos e na conquista da América. Assim é que vamos encontrar um Camargo envolvido nas lutas pela conquista da região de Panuco, outros como Governador da Jamaica, ou ainda outro participando do episódio sangrento da feroz luta pela posse da Fortaleza de Vilcabamba defendida heroicamente pelos INCAS, no Peru.

 Destes Camargos o primeiro a chegar a América supõe-se ter sido D. AFONSO DE CAMARGO, a respeito de cujas aventuras Silva Leme nos conta que por volta de 1539 empreendeu uma viagem  ao Peru, através do estreito de Magalhães, e ao cabo de inúmeras peripécias alcançou o Porto de Arequipa.         

Os nossos genealogistas apontam-no como sendo relacionado, por parentesco direto, com o nosso tronco paulista pela qual parece-nos importante detalhar de forma mais ampla seus antecedentes históricos.

         Em  1529 D. Izabel, da Espanha, doou ao fidalgo português    D. Simão de Alcacovas e Soutomaior, duzentas (200) léguas de terras  tendo como limites mais importantes o povoado de Chincha e o Estreito de Magalhães.      

Essa área recebeu o nome, previamente designada, de  “Província de Nova Leão” e abrangia as regiões compreendidas entre a Patagônia, a Terra do Fogo e o Sul do Chile.

Carvalho Franco registra a existência de dois documentos publicados na íntegra por Pablo Pastells, sendo que no primeiro se contém a narração do escrivão da corte, Affonso de Veedor , e no segundo informações atribuídas a Lopez de Gomara.

Neste segundo documento está contida a narrativa de um episódio trágico de conquistadores Espanhóis do século XVI, onde se lê que o chefe da expedição “Não soube levar nem se valer da sua gente e assim o mataram a punhaladas, dez ou dozes dos seus, no Cabo de São Domingos antes de chegar no Estreito”. Este fragmento de narrativa refere-se nada mais, nada menos, às ocorrências da viagem do fidalgo português, D. Simão de Alcacovas e Soutomaior que pertencia à corte do Rei Carlos V, e cujo nome atrás mencionamos. Por ter feito a seus homens promessas e não poder cumprir, foi acossado pelos marinheiros  amotinado  autor do seu trágico fim.

D. Simão de Alcacovas e Soutomaior era ligado por laços de parentesco com D. Francisco de Camargo, natural e residente em Placência, ao qual coube, por herança, a mesma terra doada por D. Izabel, no extremo “Sul da América”.

As referidas terras, herdadas por D. Francisco de Camargo, tiveram seu foral lavrado a 6 de novembro de 1536, em Valladolid e a 8 de dezembro, o novo proprietário foi nomeado Governador  destas terras. Com os títulos de Adentado e Aquazil-Mor com a dignidade de CONDE. Tão logo essas formalidades de legalização das terras e os títulos foram lavrados, D. Francisco de Camargo e o seu irmão D. Guterrez de Carvajal, o Bispo de Placência, trataram logo de organizar uma  expedição colonizadora, com o intuito de povoar  a região.

Conhecem-se muitos documentos a que tratam dos preparativos desta expedição; porém, da viagem propriamente dita e dos motivos que determinaram o seu insucesso não existe quase nada nos arquivos de Sevilha e tampouco nos de Placência. Com referência também aos historiadores das Índias, o que se conhece informa Carvalho Franco é apenas um diário incompleto, pertencente à Capitânia de uns dos navios da expedição, da qual foi único que logrou retornar à Espanha.

Sabe-se, segundo os documentos referentes aos preparativos de tal armada, que era ela composta de quatro naus e passara à história como A Armada do Bispo de Placência, visto ter sido D. Guterrez de Carvajal que arcou com a maior parte dos gastos.

A expedição, diz Carvalho Franco, foi organizada em Sevilha por D. Affonso de Camargo, parente de D. Francisco de Camargo, porém nenhum tratado genealógico Espanhol que tenha sido impresso contém o título “Camargos” sendo por essa razão muito difícil se estabelecer o grau de parentesco entre eles.

Os dados a respeito de D. Francisco de Camargo foram extraídos de manuscritos datados todos do século XVIII, onde sob o título de “Camargos de Placência” a ele se faz referência. Tais manuscritos se encontram no arquivo Catedralício da cidade de Placência e têm sido atribuídos a D. Gonçalo Abarrota. Uma cópia deles foi cedida ao Brasil por atenção do reverendo Gabriel de Lorente, antigo professor do colégio dos Marianos de Placência.

Nas Cartas das Índias continua Carvalho Franco, se diz que a Armada do Bispo de Placência  zarpou de Sanlucar sob o comando de D. Affonso de Camargo. Documentos coevos, no entanto, afirmam que D. Affonso de Camargo não podendo acompanhar a armada delegou poderes ao Comendador do hospital Real, Frei D. Francisco da Ribeira, que por carta régia de 25 de julho de 1539, foi nomeado General e Governador da expedição, sendo confiado o comando de naus a D. Affonso de Camargo.

A capitania teve como mestre Miguel de Aragão, piloto Português que já havia empreendido várias travessias do Atlântico, ficando a última nau sob o comando do Capitão Gonçalo de Alvarado.

A 19 de setembro de 1539 a armada já havia largado Sanlucar de Barrameda. Sabe-se, através das informações deixadas por Pablo Pastells e por Viaena, que a navegação processou-se diretamente ao Estreito de Magalhães e que ele adentrou a 20 de janeiro de 1540 e após dois dias perdeu-se a nau capitania.

A nau que Alvarado tentou, inutilmente, resgatar os náufragos, pois o desastre foi total, perdeu toda equipagem inclusive o Governador da expedição D. Francisco de Ribeira.

A nau de Alvarado, segundo as parcas informações já mencionadas, após vários meses sem destino, retornou à Espanha.

Sobre os navios comandados por D. Affonso de Camargo, sabe-se que um naufragou em lugar desconhecido, enquanto o outro, o de D. Affonso conseguiu atravessar o estreito, ganhando o oceano Pacífico e alcançando o litoral do Peru adentrando o Porto de Quilca, na província de Arequipa.

É importante assinalar aqui, que após a célebre travessia de Fernão de Magalhães, D. Affonso de Camargo  foi o segundo navegador a realizar tal proeza.

Em julho de 1541, recebeu notícias na Espanha, relatando o fracasso total da expedição. Desanimado sob o impacto das elevadas somas absorvidas pelo malogrado empreendimento, do qual resultaram severos prejuízos para si e para o seu irmão o Bispo de Placência, e já combalido em sua saúde, escreveu seu testamento, vindo a falecer  por volta de novembro de 1546 em Madri.

Quanto a D. Affonso de Camargo sabe-se pelas “Cartas das Índias” que permaneceu no Peru, envolvendo-se nas lutas de conquistas, e por ter se indisposto com o grupo de Gonçalo Pizarro, foi vítima de uma conspiração que teve como epílogo o seu assassinato por um tal de Francisco de Carvajal, em 1546.

O que foi relatado até aqui, tomando por base o livro de Carvalho Franco, e tudo que me foi possível coletar sobre os membros que antecederam o primeiro “CAMARGO” que veio ter a Vila SÃO PAULO.

Reproduzindo aqui as informações de Silva Leme em sua monumental  “Genealogia Paulistana’’, a família Camargo teve princípio em” “JUSEPE DE CAMARGO”, vindo à capitania de São Vicente na última parte do século XVI, filho de Francisco de Camargo e de Gabriela Ortiz, naturais da região de  Castella da Espanha.  Luís Dias de Camargo e Beatriz de La Peña foram seus avôs paternos.

Silva Leme explica que essa ascendência encontrou-a  ele em um manuscrito datado do século XVIII, da lavra de um filho do Capitão Diogo Gonçalves Moreira, e que o ramo de que trata era oriundo de Sevilha sendo o mesmo que pertenceu o célebre navegante Espanhol D. Affonso de Camargo.

Além dessa informação transmitida por Silva Leme, conhecemos uma outra de punho de Roque Luís Paes Leme, filho do Guardamor e Comendador Pedro Dias Paes Leme, e Cônego Chantre da matriz de São Paulo.

Em seus manuscritos consignou ser JUSEPE DE CAMARGO,  ou historicamente “JOSÉ ORTIZ DE CAMARGO”, natural de Castrójeriz, província de Burgos/Espanha, e filho de Francisco de Camargo e de Gabriela Ortiz.

Aquele eclesiástico, segundo nos informa Carvalho Franco,  deixou vários manuscritos sobre genealogia dos quais os mais conhecidos são as memórias genealógicas das capitanias da Bahia e Pernambuco e a Nobiliarchia Brasiliense que existe na biblioteca nacional. Neste último, que é datado de Lisboa aos 5 de fevereiro de 1792, confessa haver extraído a maior parte das informações das memórias do  Sargento-Mor Pedro Taques de Almeida Leme.

Acreditamos que esta sua asserção deve ter sido baseada no título, hoje perdido, do insigne linhagista Pedro Taques .

Passando a palavra a Azevedo Marque, ficamos sabendo que José Ortiz de Camargo veio ter a capitania de São Vicente por volta de 1583. Porém, nos documentos oficiais da câmara dos vereadores da Vila de São Paulo, ele aparece mencionado pela primeira vez em 1587, contrapondo-se já ao prestigioso Antonio de Proença, e dando azo a se afirmar que devera se achar fixado no Caminho do Mar, onde também, a esse tempo, andava estabelecendo o que foi seu sogro, Domingos Luiz “O Carvoeiro”.

E tido como certo, muito embora, não esteja relacionado na lista de Pablo Pastells, e muito menos conste de sua existência no arquivo de Sevilha, que José Ortiz de Camargo veio para o Brasil na armada de Diogo Flores Valdes.

Esta armada tinha como objetivo outra tentativa de colonização da já aventurada Província de Nova Leão, apesar de não estar relacionado seu nome na lista de Pablo  Pastells, sabemos, através de Pedro Taques que muitos outros nomes, que pertenciam ao meio social da Vila de São Paulo, no século XVI, e é certo, por informações coevas, que se referem a pessoas que vieram na armada de Valdes,  igualmente não constam na lista de Pastells. Podemos citar os seguintes nomes: Antonio Raposo “O VELHO” (Pai de Antonio de Raposo Tavares) que era natural de Beja, Alentejo, e casado com Antonia Peralta em Castella; Bartholomeu Bueno da Ribeira e outros.

Já Bartholomeu “O SEVILHANO”, veio com Valdes e está relacionado na lista de Pastells.

Para melhores esclarecimentos sobre a relação entre esta armada e as pessoas existentes em documentos da Câmara de São Paulo é necessário identificar os  membros e os propósitos da referida empresa Diogo Flores Valdes era Asturiano e tinha o título de Capitão General das Costas do Brasil, sua armada, como ficou dito no começo, destinava-se à colonização de Nova Leão, já alvo da malograda empresa na qual D. Francisco de Camargo e seu irmão, o Bispo de Placência perderam consideráveis somas.

Como ironia do destino, encontrava-se nesta outra expedição, de iguais propósitos, um seu descendente, que outro não era senão José Ortiz de Camargo.

Diogo Flores Valdes, ao se aproximar do litoral Brasileiro, teve sua armada às voltas com sérios problemas, tais como, doenças, falta de víveres e outras privações. Tanto assim que Aureliano Leite, citando Azevedo Marques, diz que o Capitão-Mor Jeronymo Leitão ordenou que os moradores de São Vicente fornecessem a Valdes e à sua gente duzentas reses, as quais foram negadas pelos moradores. Em consequência destas atribulações, parte da armada havia  tocado no Porto de Santos e parte no Porto de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Em Santos, vários integrantes desta armada, entre os quais José Ortiz de Camargo, Bartholomeu Bueno da Ribeira “O Sevilhano”, estiveram acampados, ali, por alguns meses. Esta estadia prolongada serviu para um estreitamento de relações com o pessoal da terra, concorrendo esta circunstância para que quando a armada retornasse o seu curso, ocorresse uma grande deserção.

Como consta em Ata da Câmara de São Vicente, datada de 9 de novembro de 1583, houve uma tentativa de captura dessas pessoas, através de um mandato expedido energicamente pelo Capitão-Mor Jeronymo Leitão, mas embalde, porque o estreitamento com os moradores, e talvez outros interesses, fizeram com que estes açoitassem os desertores em suas próprias moradas.

Entre eles encontravam-se os de apelidos: “Madeira, Camargo, Barregão, Ribeira, Bueno, Godoy,” e, muitos outros, que mais tarde irão aparecer no meio social da Vila de São Paulo de Piratininga.

Jaboatão narra um triste episódio, relacionado com a estadia de Valdes que é o seguinte: existia no Convento da Luz, o mesmo que foi erguido por Domingos Luiz e sua esposa, um piedoso e estimado Frade, que pelo simples fato de pedir uma esmola a um dos marinheiros da armada, foi por ele, covardemente apunhalado. Acredita-se que esta ação violenta prendeu-se ao profundo recalque, com certeza, que este marinheiro possuía por ter um defeito em uma das pernas, e provavelmente tenha recebido o pedido do Frade como uma zombaria. Fato é que, este talvez tenha sido o primeiro crime civil ocorrido no planalto, pois é o primeiro das quais podemos aquilatar a grande repercussão e tristeza que o mesmo provocou entre os moradores.                                                                      

Após esses inúmeros incidentes, a Diogo Flores Valdes, nada restou, a não ser retornar seu curso com a armada desfalcada, cujos êxitos fogem, todavia ao escopo deste trabalho.

Terminada a exposição do que se sabe sobre a origem do apelido “CAMARGO”, e as circunstâncias que se deram à chegada deste tronco ao Brasil é objetivo precípuo deste esboço genealógico, relacionar as gerações que nos ascenderam.

Quero também deixar registrado, que este trabalho só foi possível, graças à colaboração de Luciano Camargo de Oliveira Pinto, o qual tem como seu quarto avô o Capitão Joaquim de Camargo Penteado.

Demais matérias, tiradas em livros de genealogia e histórias de São Paulo, dos autores, que nomeamos a seguir: Luiz Gonzaga Silva da Silva Leme, Francisco de Assis Carvalho Franco, Alfredo Ellis Junior, José de Alcântara Machado, Affonso D’E Taunay, Jaime Cortezano e Aureliano Leite.

 

 

                                          AMAURY HERCULES FERRAZ DE CAMARGO

 

                                                     Jaú, 10 de abril  de 1.998.    

 

 

 

 

 

 

 

  “ Tronco ”  

 “José Ortiz de Camargo”

   Jusepe de Camargo      

                  

                              

 

Como citado anteriormente, Silva Leme nos forneceu os seguintes dados sobre a ascendência do tronco da FAMÍLIA CAMARGO:  JOSÉ ORTIZ DE CAMARGO ou JUSEPE DE CAMARGO” como assinava na maioria das vezes, chegou à Vila de São Paulo no último quartel do Século XVI, filho de Francisco de Camargo e de Gabriela Ortiz, ambos naturais da Espanha,  região Castellana, cidade de Castrójeriz, ao lado de Burgos.  Foi ele neto, pelo lado paterno, de  Luís Dias de Camargo e de Beatriz de La Peña.

Na Vila de São Paulo, Jusepe de Camargo, casou-se com Leonor Domingues,  filha de Domingos Luiz, “O Carvoeiro de Alcunha”, e Anna Camacho (filha de Bartholomeu Camacho e Catarina Ramalho, esta filha de João Ramalho e Izabel Dias, esta, filha do Cacique Tibiriça, que antes do batismo, chamava-se M’bicy).

Sobre este  último casal é necessário registrar que eram pessoas voltadas para as práticas piedosas e muito apegadas a lides de igreja, tendo sido os fundadores de uma capela, cujo orago era Nossa Senhora da Luz, que, com o passar dos anos, deu origem ao atual Convento da Luz (Igrejas de S.Paulo, de Leonardo Arroyo, pág. 3 – 1.  Livro do Tombo da Sé, pág. 15, arquivo da Cúria metropolitana ).

Jusepe Camargo era concunhado de Amador Bueno da Ribeira, porque este ultimo também era casado com uma filha de Domingos Luiz, de nome Bernarda Luiz. Essas duas famílias participaram do sangue de “JOÃO  RAMALHO”, ascendente de Anna Camacho. Este lendário cacique foi o braço direito de “Pe. ANCHIETA”, sem cujos préstimos, sua missão teria sido mais difícil.

Através das atas da câmara dos vereadores da Vila de São Paulo, foi possível traçar um perfil da personalidade de Jusepe de Camargo. Foi ele um político hábil, espírito aguerrido, ardoroso defensor da utilização do braço indígena como escravo, em benefício dos colonos. Demonstrou possuir um caráter intransigente. Aliás, me parece, que este traço tem acompanhado seus descendentes de linha direta há quase quatro séculos.

Tudo nos leva a crer que Jusepe de Camargo foi sempre um homem, cujas atividades desenvolveram-se mais dentro do âmbito cidadino do que propriamente nas lidas do sertão. Esta hipótese se nos configura provável devido seu nome não constar como participante de qualquer das primeiras entradas levadas a cabo, pelo capitão-mor Jerônimo Leitão, com a finalidade de reduzir os Índios Carijós.

Por volta do período de tempo que compreende 1590 a 1592, a Vila de São Paulo foi assediada por índios refratários a catequese, e de acordo com as primeiras atas da câmara, Jusepe de Camargo teve participação ativa, comparecendo como uma das principais figuras na organização da defesa da Vila de São Paulo, que na época era constituída do colégio dos Jesuítas e umas poucas casas de colonos, sem falar em algumas propriedades rurais mais afastadas.

Em 1592 foi eleito Almotacel, e figura a essa mesma época em um protesto dirigido ao Capitão-Mor sobre questões de localização de domicílio, contrapondo-se ao prestigioso Antônio da Proença.

Em 1595 ganha a eleição para Juiz Ordinário. Por volta de 1598 temos notícias que Jusepe de Camargo residia nos arrebaldes de São Paulo, sendo vizinho de Diogo Fernandes.

Dentro do quadro político da época, temos informações de que ao findar o século XVI liderou a organização de grupos, cuja finalidade era a mineração do ouro e da prata, empreendimento este, que era suportado, financeiramente, pelo chefe da casa dos Souza Prado, sem, contudo precisar ir para o sertão.

No alvorecer do século XVII, 1602, precisamente, foi eleito vereador, tendo seu mandato sido renovado no ano seguinte. Por volta desta mesma época foi membro destacado de uma junta eleita Por determinação do Provedor da Fazenda Real, Luiz D’Almada Montarroio, com a responsabilidade de classificar e registrar os índios pegados no sertão  pela entrada de Nicolau Barreto.

É de se notar que o prestígio de Jusepe de Camargo era tão grande quanto ao das figuras importantes daquele tempo, tais como Fernando Dias Paes e Antônio da Proença e outros.

Jusepe de Camargo, como já foi dito, era pessoa muita bem relacionada no cenário político da época, do que é exemplo uma passagem na qual figura como personalidade central. Trata-se de uma ata da Câmara datada de 22 de agosto de 1603, na qual consta que o procurador do conselho, João De Sant‘Anna, se lastima diante dos demais membros, por julgar que Jusepe de Camargo havia abusado de sua boa fé, ao agir de modo parcial, com intuito de servir a um seu amigo particular, o então Capitão-Mor  Diogo Lopes de Castro.

A 17 de março de 1607, temos outra notícia de Jusepe de Camargo. Foi ele nomeado por provisão do governador-geral Diogo Botelho ao cargo de Juiz de Órfãos da Vila de São Paulo.          Em 1612 é eleito novamente Juiz Ordinário.

Jusepe de Camargo foi um dos destacadas cabeças do movimento encetado para expulsar os Jesuítas, em consequência de questões relativas ao escravismo Indígena.

Para ter-se uma idéia mais ampla do que foi este movimento e suas razões e repercussões, tracem um esboço do que realmente sucedeu:

D. Francisco de Souza, quando governador-geral das capitanias do Sul, preocupou-se mais com descobertas de Filões Auríferos, não se interessando muito pelas demais necessidades que envolviam a governância. Foi ele muito chegado às ordens religiosas e influenciado pelos últimos, refreou quando lhe foi possível às investidas escravagistas dos colonos. Após seu desaparecimento, seu filho D. Luís de Souza Henriques, movido já por outros interesses, afroxou este controle.

Por essa época, em São Paulo como em outras regiões do Brasil que possuíam núcleos de colonização existia um certo descontentamento por parte dos colonos devido ao usufruto parcial dos Jesuítas pela mão-de-obra indígena. Pois os Jesuítas acobertados pelos objetivos catequistas, aos poucos, estavam com o monopólio do Braço Gentil sobre seu controle.

Pois bem, onde não há gozo equitativo de direitos, existe a insatisfação.  O referido fato foi, aos poucos, impregnando o ânimo dos colonos, que reagiram contra aquele monopólio injusto no tocante à utilização de direitos, muito embora este tão cobiçado privilégio fosse indigno para ambas as partes sob o aspecto moral inerente ao próprio escravismo.

Para abrandar tais tenções, a metrópole sancionou a lei de 10 de setembro de 1611, criando para o governo civil das aldeias um Capitão para manter a ordem e organizar o uso do braço indígena, o que de certa forma revogava em parte a proibição das entradas de redução indígena.

Tal afrouxamento foi o suficiente para que os Paulistas recrudescessem de tal forma em suas investidas às reduções Jesuíticas de Guaíra e Tape que não tardou uma reclamação enérgica do Governador do Paraguai.

Os jesuítas a seu turno não queriam abrir mão do antigo privilégio, coisa que, de certa forma, irritava os colonos, acirrando-lhes os ânimos e levando-os a constantes desentendimentos.

A 10 de julho de 1612, conforme consta em Ata da câmara da Vila de São Paulo, os vereadores reuniram-se com os homens de destaque do governo e do meio social, sob  a Presidência de Jusepe de Camargo o qual expôs o fato de que, muito embora D. Luiz de Souza houvesse permitido em parte a utilização do braço indígena pelos colonos, os Jesuítas a isso se contrapunham, induzindo os indígenas a se rebelarem em zombarias contra o poder dos Capitães.

Cerca de sessenta e oito potentados da capitania assentaram que tal estado de coisas deveria ser mudado. Providências enérgicas acreditam, devem ter sido tomadas, pois após esta reunião durante um lapso de vinte anos não ocorreu intromissão por parte dos jesuítas nesta questão indígena.

A essa época Jusepe de Camargo atingia seu apogeu na Capitania e a 1613 na ata inicial do novo mandato encontra-se assentado que os oficiais se ajuntaram nas pousadas do vereador mais velho, Gonçalo Madeira, por estar aí a caixa do conselho e determinaram que servisse de Almotacel  Estevam Gomes Cabral. Por casado de pouco com a filha de Jusepe de Camargo que é pessoa da governança da terra e ele ser contente se desse à vara ao dito genro.

Neste mesmo ano de 1613, Jusepe de Camargo figurou como procurador de seu sogro, Domingos Luiz, “O Carvoeiro” no inventário de Domingos Luiz, “O MOÇO”.  

Pela maneira com que se conduziu neste processo, conforme cópia de um fragmento que anexamos a este trabalho, denunciando a sonegação de bens aos menores netos de Domingos Luiz, “O Carvoeiro” concluímos daí que Jusepe de Camargo devia ser pessoa letrada e possuidora do conhecimento das normas jurídicas vigentes naquela época.

A partir de 1613 Jusepe de Camargo não mais tomou parte ativa na política de São Paulo.

Segundo informações do Cônego Roque Luís, ele veio a falecer em 1619, e sua mulher Leonor  Domingues a 11 de novembro de 1630, ficando do casal, segundo Silva Leme, com base em documentos do arquivo do estado de São Paulo, cartório de órfãos e da cúria metropolitana, oito filhos. Posteriormente, Carvalho Franco descobriu, ao pesquisar nos arquivos da cúria, um nono filho.

O Casal teve os filhos abaixo relacionados:

 

 

1-   FERNÃO DE CAMARGO” - “O TIGRE” – Este constitui o segundo elo da cadeia dos meus andecedentes; casado com MARIANA DO PRADO, filha de João de Santa Maria e Felipa do Prado; faleceu em 29 de dezembro de l679;

2-   JOSÉ ORTIZ DE CAMARGO “O MOÇO” – Promotor em primeiro grau na luta entre os partidos dos Pires e Camargos, foi casado antes de 1630 com Aria Antunes, vindo a falecer a 23 de julho de 1663;

3-   FRANCISCO DE CAMARGO, casado em 1637 com Izabel Ribeira e falecido a 1º de junho de 1669. Este foi Capitão e lugar-tenente de Francisco Pedroso Xavier na grande bandeira para conquista de Vila Rica do Espirito Santo, antiga reduto de índios dos jesuítas Espanhóis;

4-   MARCELINO DE CAMARGO, casado em 1639 com Maria Ferreira Pimentel de Tavora e falecido a 16 de junho de 1684;

5-   JERÔNIMO DE CAMARGO, casado posteriormente a 1640 com Anna Cerqueira e falecido nos princípios de 1700. Jerônimo de Camargo foi fundador de Atibaia (SP).

6-   GABRIELLA ORTIZ DE CAMARGO, casada em1613 com Estevam Gomes Cabral e falecida antes de findar 1677.

7-   MARIANA DE CAMARGO, casada em 163l em primeiras núpcias com Bartholomeu Bueno da Ribeira, “O Moço”, que juntamente com Rodrigues Arzão, foi um dos primeiros descobridores de ouro nas Minas Gerais;

8-   ANNA MARIA DE CAMARGO, casada com o notável bandeirante Cláudio Furquim, “O Francez”;   

9-   IGNACIO DE CAMARGO, casado em 1639 com Maria Luís e falecido em 1684.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                              
 
                                              HISTÓRICO: 

 

 

 

 

O século XVII ficou marcado pela atuação dos bandeirantes, desbravadores que saiam à frente de pequenas comitivas para explorar terras virgens, em busca de índios e minerais preciosos. A maioria das expedições partia de São Paulo e a rota mais procurada era a que levava aos tesouros das “Minas Gerais”. Tratava-se de uma viagem longa e árdua, que requeria muitas paradas para descanso e reabastecimento. A primeira delas, ainda nas proximidades de São Paulo, ficava numa colina banhada por um rio que os índios chamava de “Tubaia” ou “Atubaia”(água agradável ao paladar).

Porém, entre os bandeirantes que chagaram a Paragem do Atubaia, destacou-se Jerônimo de Camargo, descendente de umas das mais conhecidas famílias da época. Profundo conhecedor de toda a região, acabou por fixar-se no local: fundou uma fazenda de gado e, no alto da colina, construi uma capelinha sob a invocação de São João Batista. Isso aconteceu em 1665.

Nesta mesma época, o padre Matheus Nunes da Siqueira chegou do sertão com um grupo de índios Guarus catequizados e, por ordem da Câmara de São Paulo, instalou-os  ao lado do sítio São João Batista. O pequeno núcleo confirmou-se, então, como para obrigatória para quem seguia em direção a Minas Gerais e o povoado começou a desenvolver-se lentamente. 

Em 1679, a igrejinha passou a ser capela curada – isto é, recebeu a visita do Padre Provincial, que celebrou missa e presenteou o fundador com “4 cambadas de peixe salgado e 3 queijos”. Jerônimo de Camargo faleceu em Jundiaí, no princípio de 1707, mas seus descendentes deram continuidade ao trabalho nas fazendas de gado e à luta pela emancipação do vilarejo. Finalmente, por alvará de 13 de agosto de 1747, a aldeia tornou-se “freguesia” e assim nasceu o distrito de São João de Atibaia (ou Tybhaia, conforme a grafia da época). 

Os dados foram enviados pela Câmara Municipal de Atibaia, em 25 de maio de 1998.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

       “Fernão de Camargo” 

            O Tigre

 

...Estos Portuguezes de Sam Pablo vivem sim freno del respeito y del temor del castigo de los Governadores del Brasil.

Son gente como sublevada y foragida que tienen por costumbre cometer entradas y robos en las Porvincias de nuestra corona. Por la grande distancia que se hallan de La Vahya de Todos Los Santos, sitios onde reside el Governador General del Brasil, apenas le reconocen y obedezen,vivendo com grande desenfrenamiento, falta de respecto y amor a la justiça.

Quando las audiencias embian algun oydor a castigar oydor a castigar delinquentes suelen despedir le con amenazas.

Es considerabilismo el numero de indios que tienen en sus haziendas. En las tareas de estos consiste sumayor caudal, engrado que en los casamientos, el dote ordinario y comum es decien indios”. Trecho de uma carta escrita pelo Abade Giovanni Domenico Maserati, embaixador de Espanha em Lisboa e endereçada a CARLOS II em 1678.

...Os moradores  de São Paulo vivem como quazi a lei da natureza e não guardão mais ordens que aquella que conven a sua convenniencia e assy sera mui dificultozo obrar com elles couza algua tocante ao particular de indios e gentio.

Meneses, Governador do Rio de Janeiro, à DOM PEDRO II de Portugal em 169l.

 

...O segundo erro de D. Rodrigo de Castel Blanco, constituiu na presença da infantaria de linha que levava este homem, ou fosse para se introduzir e obedecer, se os Paulistas, o não quisessem admitir, ou para acompanharem ao sertão.

Se para se introduzir e fazer obedecer, no caso que os Paulistas o repugnassem, nem cem vezes os 50 soldados que levava, o poderiam meter na vila de São Paulo, porque os serros a defendem por todas as partes, seus moradores de grande valor e constância em causa pública, e todos na ultima desesperação, são incosquistáveis.

E ciomo o nome de infantaria para elles he abominável, e introduzida essa primeira, poderão Ter entre si, a despozicam, de toda amais, seria muito para temer que o não deixassem subir a serra, e ir a villa.

Esse era para authoridade de sua pessoa e execução de suas ordens, com a mesma infantaria se o impossibilitava intento porque quanto he mayor a authoridade que se funda em levar soldados, he mayor o escrupulo daquelles E como os governadores desta praça não têm naquelas capitanias jurisdição, apenas abservão algua ordem do Governo Geral”. Trecho de uma carta escrita por Luiz César de por cuja causa os levam, e destes lhes podia nascer à desconfiança de se considerarem dominados, quando todo o estudo dos Paulistas he a conservaçam da sua liberdade.

Para o acompanharem ao sertão até a serra de Sabarabussu, não tinha para isso préstimo infantaria alguma no Brasil, não sendo Paulistas, como a experiência tem mostrado”. SIC.

Carta escrita por Antonio Paes de Sande, governador do Rio de Janeiro, a D. Pedro II de Portugal, sobre as pesquisas da mineração, e as causas do fracasso da expedição de D. Rodrigo de Castel Blanco em 1663.

Os trechos das missivas aqui transcritas nos levam de certa forma, a conhecer o comportamento do meio social e a personalidade marcante dos Paulistas ao tempo do Capitão Fernão de Camargo, cuja alcunha de “O TIGRE”, leva-nos a imaginar quanto terrível deve ter sido este nosso avoengo.

Pois bem, após reunir todas as informações que consegui amealhar através das pesquisas feitas em diversas obras de genealogia e história do Brasil, procurei dispô-las de forma a permitir ordenar as pegadas deste homem que, com sua valentia e domínio dos sertões, nos assegurou juntamente com muitos outros notáveis Bandeirantes, este território imenso do Brasil.

Como vimos na relação dos filhos do velho Jusepe de Camargo, Fernão de Camargo era o primogênito. Muito embora não conhecemos a data precisa de seu nascimento, ele foi herdeiro inconteste dos princípios escravocratas de seu pai, cabendo a ele, como adiante veremos, chefiar a expulsão final dos Jesuítas da Vila de São Paulo.

Fernão de Camargo casou-se cerca de 1627 com Mariana do Prado, filha de Felippa do Prado e do Castellano (região da Espanha) João Santa Maria, que veio para o Brasil na qualidade de secretário de D. Francisco de Souza, governador geral das capitanias do Sul, em 1609.

Fernão de Camargo, ao contrário de seu pai, não só teve uma atuação dinâmica, juntamente com seu irmão José Ortiz de Camargo, no cenário político da Vila de São Paulo, como foi também, um denodado Bandeirante.

A primeira aparição de Fernão de Camargo, que nos é dada conhecer pelas atas da câmara, se deu por volta de 1635, comparecendo como vereador eleito. Neste mesmo ano Fernão de Camargo comandou juntamente Dom Pedro Leme uma expedição Bandeirantista à região dos Patos. Essa região nunca teve seus limites muitos bem estabelecidos, porém, sabe-se através dos inventários e atas da câmara de São Paulo, parte do atual estado do Paraná e parte do atual estado de Santa Catarina.

A bandeira em questão possuiu uma característica interessante que foi a de ser levada a efeito por meios marítimos, distinguindo-a de um certo modo das demais.

Sabe-se também que Fernão de Camargo teve participação ativa, constituindo-se figura de proa, na bandeira à região dos Índios Tapes na qual foi Capitão de uma das colunas que teve comandante geral o pai do bandeirantismo o mestre de campo Antonio Raposo Tavares.

No ano de 1636, é feito Almotacel e a 1640 foi eleito para o cargo de Juiz Ordinário.

A essa época, como já vimos, verificou-se um certo afrouxamento quanto às proibições contra as incursões dos Paulistas nas reduções dos Jesuítas Castelhanos baixadas pelo Governador-Geral  D. Luiz de Souza Henriques, motivo pelo qual não tardou que a Companhia de Jesus fizesse pressão junto aos poderes da Metrópole, fazendo expedir em 1638 um Breve proibindo a escravização do gentio pelos colonos.

O portador deste Breve foi o Padre Francisco Dias Tanho, que, aportando na cidade do Rio de Janeiro, tratou logo de torná-lo público, este fato, que provocou intensa reação entre os moradores, levando-os a cometer atos de violência contra os jesuítas. Quando publicado em Santos, distúrbios iguais se verificaram.

Porém, a reação do povo de São Paulo foi muito mais significativa. Além de toda sorte de tropelias, verificou-se uma assembléia, que teve como Presidente, o então Juiz Ordinário Fernão de Camargo “O TIGRE”.

Durante esta assembléia foi redigido um documento no qual Fernão de Camargo assinou em primeiro lugar, seguido por seus irmãos e demais membros de destaque do meio social. Segundo a data de 1640, ali se exigia a retirada imediata dos jesuítas da Vila de São Paulo, coisa que de fato ocorreu, conforme o testemunho do padre Carvalhães, que abaixo transcrevemos:...E assim, aos treze de julho, a uma sexta feira, às duas horas depois de meia noite, mandaram os da câmara de São Paulo tanger os sinos, ao que se ajuntou o povo, e junto o procurador do povo João Fernandes Savedra, da janela da câmara leu a última e final sentença da junta, do desterro dos padres da Companhia, e logo em rompendo a manhã se foram todas as portarias do Real Colégio, aonde acudiu o padre Reitor com os demais religiosos, aos quais intimou o dito procurador a sentença final, ao que o padre reitor respondeu o que convinha, a saber, que não podia despejar-se, e que fez seus protestos, porém, valeu isso pouco, porque entrando o povo, lançou fora aso empuxões assim ao padre reitor como os demais SIC.

Por esta época, na Vila de São Paulo existiam dois partidos políticos um liderado por José Ortiz de Camargo “O MOÇO” e seus irmãos, conhecido através dos documentos como “O PARTIDO DOS CAMARGOS”, e um outro chefiado pelo velho João Pires e seu genro licenciado Francisco Nunes de Siqueira, que chamou a si próprio de “O Redentor Da Pátria”. Este era o partido conhecido como sendo “O Partido dos Pires” no qual militou também o celebre bandeirante Fernão Dias.

Pois bem, esses dois partidos, entraram em secular porfia, sendo que as razões das dissensões são muito controvertidas. Das muitas versões, existe de  um documento do Padre Serafim Leite, que considera a expulsão dos jesuítas como inicio da luta travada pelas duas facções, pois a dos Pires era pró-jesuítas, por serem estes na sua maioria Portugueses de origem, ao passo que a dos Camargos era radicalmente contra os padres da Companhia e era de ascendência Castelhana.

Analisando-se mais, detalhadamente, os dados dos historiadores, decidimos optar pelas  de Paulo Prado que cita em notável “Paulística” como sendo a causa mais provável das sangrentas tragédias que envolveram as lutas desses dois partidos o caso passional narrado por Pedro Taques em sua Nobiliarchia Paulistana, como a seguir veremos:

Na primeira metade do século XVII, vivia em São Paulo, Alberto Pires filho de Salvador Pires de Medeiros e de D. Inez Monteiro de Alvarenga, conhecida pelo cognome de “A Matrona” devido a sua personalidade forte e decisiva, bastante incompatível com a das demais senhoras de sua época.

Alberto Pires, por volta de 1640, segundo nos informa o genealogista Silva Leme, contraiu núpcias com Leonor de Camargo Cabral. Segundo a tradição, passada de pai para filhos, como ele próprio, Pedro Taques nos informa, no dia do entrudo Alberto Pires quis importunar a esposa e, desastradamente, desferiu-lhe uma pancada na fonte esquerda, prosando-a já sem vida seus pés.

Atemorizado, atinando com a gravidade de seu ato e, diante da possibilidade de ser acusado de um crime de assassínio, Alberto Pires, no auge do desespero, urdiu uma trama de adultério e para levar a cabo seu intento, mandou chamar o seu cunhado, o famoso bandeirante Antonio Pedroso de Barros sob o pretexto de entrudar, esperou-o na tocaia e quando essa segunda vítima ficou sob o alcance da mira do bacamarte atingiu-o fatalmente.

Em curto lapso de tempo ajuntou os dois corpos, mandando chamar, com presteza, os seus parentes e amigos para presenciar um quadro de flagrante adultério. Sendo que a ninguém convenceu este estratagema imoral e cruel, que foi logo por terra trazendo a lume as verdadeiras razões.

Certamente, pouco tempo  decorreu dessa ação ao tumulto generalizado, onde com certeza, não deve haver faltado insultos e recriminações recíprocas por parte de ambas as famílias.

Os dois grupos, antagônicos já por suas próprias origens, transformaram aquilo que por direito era da alçada da Justiça Civil em um motivo para que as paixões Político-Partidárias fossem exacerbadas desprendendo centelhas em um sem números de desafios e vinganças.

D. Inez Monteiro homiziou o filho  em seu sítio na serra de Ajuba. Porém não tardou muito a ser ele descoberto.

A turba enfurecida cercou a casa ameaçando invadi-la caso Alberto Pires não fosse entregue. A esta altura, a enérgica personalidade de D. Inez Monteiro, aliada ao acentuado amor maternal, fez com que ela irrompesse diante da multidão, com um crucifixo nas mãos, falando aos perseguidores e propondo, ela mesma entregar o filho, desde que a ele, fosse assegurado um julgamento nos moldes da lei, na Metrópole (Rio de Janeiro).

Como que apanhada de surpresa pela atitude firme da Matrona, a massa recuou em seus intentos.

Alberto Pires foi realmente entregue e, posteriormente, embarcado para o Rio de Janeiro em uma sumaca, com destino à metrópole.

D. Inez tratou de rumar por terra o mais rápido possível a fim de interceder pelo filho, fazendo valer suas prerrogativas de fortuna e influência política. Mas quis o acaso que a sumaca fosse colhida por um temporal e, ao invés de tocar o porto de Parati, fosse levada à Ilha Grande. Nestas paragens, tiveram os tripulantes da escolta notícias de que um grupo dirigido por D. Inez Monteiro iria tentar resgatar o prisioneiro. Estes, talvez comprados, ou mesmo amedrontados ante a possibilidade de serem atacados, trataram de se pôr a salvo de Alberto Pires, utilizando-se de um expediente horroroso: “Amarraram uma enorme pedra em seu pescoço e jogaram-no no Mar”.

Desta tragédia (segundo as próprias palavras do linhagista Pedro Taques) se originou a destruição da grande casa de D. Inez Monteiro, uma das maiores daquele tempo, da qual ainda existem algumas cepas de sua grandiosa vinha, que ocupava um campo quase meio légua em quatro, que anualmente brotam, depois que nos meses de agosto e setembro costumam lançar fogos aos campos, para do verdor deles terem os gados vacuns e cavalares abundância de pastos, verificando-se o antigo rifão: “Campo que já foi vinha”.

As informações, bem como este último trecho de narrativa, a nós legadas por Pedro Taques parecem suspeitas de romantismo, pois pertencendo ele a linhagem de uma das famílias envolvidas no caso, a dos Pires, parece-nos que houve a aparente intenção de ocultar a verdadeira face da estória.

Analisando-a, concluímos que a trama urdida foi por demais inepta no tocante à sagacidade de uma pessoa que quisesse ocultar um crime, dando-lhe uma versão de duplo assassínio e eximindo de culpa o marido ultrajado, de acordo  com os costumes da época.

Quero crer que não existe dúvida sobre o adultério, situação falsa da qual nasceram os ódios e paixões que, alimentados talvez também por conveniências políticas, por mais de um século deu origem às lutas sangrentas a despeito dos esforços do Governador Geral, do Clero e até do próprio Rei de Portugal, que viam nisso uma preocupação alheia aos interesses da coroa, a não ser a de procurar ouro e prata e colonizar as terras.

Por volta de 1641, durante um dos períodos críticos dessas disputas, Fernão de Camargo “O TIGRE”, mata com um só golpe de adaga, junto à porta travessa da matriz de São Paulo, Pedro Taques de Almeida, ascendente de Pedro Taques.

Ao que parece, este foi o epílogo de uma conspiração relacionada com outro conflito havido um ano antes no mesmo local, o largo da matriz, hoje Praça da Sé, conflito em que se viram envolvidas as duas famílias e seus respectivos simpatizantes, e no qual muitas mortes ocorreram.

Segundo Silva Leme, os participantes desta conspiração foram Pedro Leme do Prado, Miguel de Almeida Miranda, Henrique Cunha Gago e outros. Azevedo Marques informa que neste entrevero participaram cerca de 5.000 pessoas.

Cumpre observar que o crime acima descrito se foi cometido por Fernão de Camargo, não foi planejado por uma só pessoa, pois que no inventário do Capitão Pedro Leme do Prado, falecido em 1658 em Jundiaí, se encontra uma escritura de perdão, na qual figuram como partes: de um lado Anna Proença mãe de Pedro Taques, representada por seu filho o Capitão Guilherme Pompeu de Almeida, e do outro, Maria Gonçalves, viúva do Capitão Pedro Leme do Prado, representada por seu filho o Padre Pedro Leme do Prado; nesta escritura Anna de Proença concede o perdão à Maria Gonçalves da morte praticada pelo dito Capitão Pedro Leme do Prado na pessoa de Pedro Taques de Almeida. Isto vem provar que: ou o crime não foi praticado por Fernão de Camargo, ou se foi este o autor dessa morte, foi ela votada em uma conspiração em que figuravam o Capitão Pedro Leme do Prado e, provavelmente, outros membros do partido dos Camargos, sendo nesta hipótese, Fernão de Camargo, sorteado para essa execução, em vez de fazer uma emboscada, protegido pela sombra da noite, preferiram executar a ordem em pleno dia, na PRAÇA DA SÉ.

Após haver participado, durante um bom número de anos, com grande atividade, na lutas dos Pires e Camargos, juntamente com seu irmão, José Ortiz de Camargo Fernão de Camargo, chegou ao auge por volta de 1645. Desta data em diante permaneceu fora das atividades políticas, reaparecendo somente para requerer junto ao Conde de Atouguia instruções para indicar a forma como se deveria processar a eleição dos oficiais da câmara da Vila de São Paulo e da Capitania de São Vicente: “Perdoar os criminosos das famílias Pires e Camargos que ali tiveram parte”; encarregar os prelados e ministros da mesma vila e capitania de conceder perdão do que houvesse contra os culpados de uma e outra parte e, em particular, aos condenados a pena capital pelo Ouvidor Geral do Rio de Janeiro, João Velho de Azevedo; suspender a execução das sentenças dos mesmos condenados ETC., ETC.

O Conselheiro Ultramarino opinou, favoravelmente, a solicitação de Fernão de Camargo e o seu parecer datado de 6 de junho de 1674 veio acompanhado de minudências sobre a Vila de São Paulo.

A provisão do príncipe nesse sentido foi registrada na câmara de São Paulo a 24 de dezembro de 1675.

Por essa época Fernão de Camargo já se encontrava em uma idade avançada, vinda a falecer em São Paulo em 29 de dezembro de 1678. Essa informação nos foi prestada pelo Cônego Roque Luiz, no seu já citado manuscrito sobre a árvore genealógica Camargo,  Ortiz,  Lopes, Lima e  Silveira.

 Sua mulher Mariana do Prado faleceu na mesma Vila de São Paulo em 1668.

 

O casal teve os seguintes filhos:

 

 

1.     FERNANDO DE CAMARGO ORTIZ”;

2.     Francisco de Camargo Santa Maria;

3.     José Ortiz de Camargo “O Moço”;

4.     João Ortiz de Camargo;

5.     Manuel Ortiz de Camargo;

6.     Lucas de Camargo Ortiz;

7.     Domingo de Camargo;

8.     Anna Maria de Camargo;

9.     Gabriela de Ortiz Camargo;

10.            Maria de Camargo;

11.            Leonor Domingues de Camargo;

12.            Pedro Ortiz  de Camargo;

13.            Mariana de Camargo e

14.            Fellipa de Camargo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                

 

 

          Capitão

   “Fernando de Camargo Ortiz”

           O Moço

 

 

Fernando de Camargo Ortiz, ou Fernando de Camargo, “O Moço” como era seu hábito assinar, nasceu na Vila de São Paulo de Piratininga, em princípios de maio de 1628. Foi casado com Joanna Lopes, filha de Gonçalo Lopes, natural de Santa Marinha em Portugal, e de Catharina da Silva, natural da capitania de São Paulo.

Segundo informações a nós legadas por Azevedo Marques, sabe-se que, foi potentado em terras e arcos. Estes cabedais, com certeza, foram provenientes das inúmeras entradas nas quais ele tomou parte, pois o Capitão Fernando de Camargo Ortiz, foi grande conhecedor das veredas sertanejas. Seu prestígio e fama fizeram com que fosse alvo de inúmeras incumbências bandeirantistas, não só da parte da governância da terra como também do próprio Rei de Portugal.

Tratemos, pois de soprar o pó dos anos, deixando a descoberto as pegadas desse nosso avoengo através da história.

Corria o ano de 1656, durante o qual encontravam-se acirrados os ânimos entre as duas facções políticas, em flagrante violação dos termos da provisão passada, pelo Conde de Atouguia. Por essa mesma época findava a guerra Holandesa na Bahia. Porém um outro flagelo fustigava os colonos do Recôncavo, eram as amiudadas investidas dos silvícolas, cujos ataques aos núcleos povoadores acarretavam grandes prejuízos, pondo até em risco, a segurança da metrópole.

Há esse tempo, o Conde de Atouguia era sucedido por Francisco Barreto de Menezes, ao novo Governador-Geral, diante dos problemas que constituíam os ataques dos índios e as lutas políticas no sul, ocorreu um expediente pelo qual julgava proporcionar dois benefícios ao Brasil. Convocaria os Paulistas para apaziguar os índios do Paraguassu e, simultaneamente, pacificaria São Paulo.

Tratou logo de escrever ao Capitão-Mor Manuel de Souza da Silva a 21 de setembro de 1657, solicitando socorros. Confessava ele os inúteis resultados das expedições locais enviadas contra os silvícolas, muito embora, como ele próprio dizia, “contarem com bastante golpe de infantaria e índios confederados”.  

O maior obstáculo ao sucesso verificava-se na ignorância da campanha e o pouco uso daquele gênero de guerra.

Os Paulistas não atenderam, de imediato, aos rogos de socorro. Somente a 17 de março de 1658, conforme a ata da câmara de São Paulo, dignaram-se os membros a eleger Domingos Barbosa Calheiros como chefe supremo da expedição, por ser ele veterano e celebre nos Arraiais dos Bandeirantes.

Para adjuntos foram nomeados os Capitães de infantaria Fernando de Camargo Ortiz e Bernardo Sanches de Aguiar, com o que “Concordaram todos três,  irem ao mesmo adjunto e serem uma mesma pessoa”.

A expedição partiu de Santos a 31 de maio de 1658 e chegou à Bahia de Todos os Santos a 14 de outubro deste mesmo ano. Nessa mesma data o Governador-Geral Francisco Barreto notificava aos camaristas de São Paulo a chegada de Calheiros com suas tropas, alegando que muito embora não fosse o número de homens esperado ele era, no entanto, suficiente para o início da operação.

Essa expedição fracassou, pois foi vítima de uma traição por parte dos Payayas, aos quais se havia recomendado unirem-se às tropas, na qualidade de reforços e guias. Na aldeia Tapurisse, conta um documento publicado pela revista Trimensal, que, os traiçoeiros Payayas devoraram muitos dos Paulistas que haviam ficado como guarda das munições, enquanto os poucos que conseguiram escapar ao cerco traiçoeiro, retornaram a São Paulo por volta de 1660.

Fernando de Camargo escapou ileso, pois em 1664, por uma carta-régia, andava ele empenhado em servir El-Rei na secular procura das Esmeraldas.

Essa carta-régia foi remetida por D. Afonso VI e esta transcrita por Azevedo Pizzago, trazendo a data 27 de setembro de 1664. Pedia el-rei que o Capitão Fernando de Camargo, desse ajuda a Agostinho Barbalho Bezerra, que acabava de ser despachado com o posto de Administrador-Geral das minas da repartição Sul.

Presume-se que após essa data, Fernando de Camargo “O Moço” deva ter andado ausente nos sertões, pois o seu nome só reaparece nos documentos por volta de fevereiro de 1677, em uma carta do Governador-Geral pedindo o seu auxílio para combater os índios Anayos que infestavam as margens do Rio São Francisco.

Mas o Capitão Fernando de Camargo não atendeu a esse pedido, pois a essa época andava empenhado nas brigas políticas entre os Pires e os Camargos.

Fernando de Camargo havia sido Almotacel em 1671. Residia então no Bairro de Cotia, onde exerceu o cargo de Capitão de Infantaria das Ordenanças, nomeado por provisão do Capitão-Mor Thomaz Fernandes de Oliveira, datada de Santos a 15 de junho de 1667.

Essa nova fase das discórdias entre as facções políticas havia recrudescido a partir de 1661, alterando-se com períodos de bonança e períodos de entreveros sangrentos.

Isto porque alguns queriam que fossem abolidas as normas do alvará do Conde de Altoguia e sendo que outros queriam que as mesmas fossem preservadas.

Por volta de 1679 agravou-se o estado de coisas a ponto de ficar resolvido se queimarem as pautas e os pelouros da eleição havida, pois os Pires não concordavam com ela. Essas desordens tiveram como promotor o licenciado Francisco Nunes de Siqueira.

Na câmara, indignada, apressou-se por meio de seu procurador, o Capitão Francisco Pinto Guedes, em requerer devassas e punições para todos os implicados nesta série de violências.

Na sessão da câmara de 20 de dezembro de 1679, Fernando de Camargo protestou contra o que vinha se fazendo, alegando não encontrar motivos para a câmara anular a eleição feita com tanta lisura para a escolha do juiz, assim desinteressava-se do assunto e não concordava que seu nome figurasse na lista dos Pelouros, muito embora, houvesse sido ele o Juiz eleito.

Pois bem, os seus partidários e membros da família Camargo, entre eles Lucas de Camargo Ortiz, João Camargo, Fernão Pires de Camargo, Pedro de Camargo, José Delgado Camargo, Domingos da  Silva Santa Maria, Pedro Ortiz de Camargo, Fernão de Aguirre e muitos outros membros da numerosa família que haviam assinado a ata da anulação da eleição mostram-se irredutíveis e as declarações de Fernando de Camargo, “O Moço”, tiveram tamanha repercussão que Fernando de Camargo se viu obrigado a retirá-las.

A câmara então, agindo com atitude enérgica, requereu uma devassa a ser remetida ao desembargador sindicante e Ouvidor-Geral João da Rocha Pitta, para que este resolvesse o que fosse de direito e tomasse as cabíveis providências quando aos acusados das desordens, indicando o nome da cabeça das ações criminosas, o licenciado Francisco Nunes da Siqueira.

O Ouvidor-Geral tomou por seu turno as providências contra o celerado cabeça dos Pires, pois a eleição realizou-se novamente de maneira tranqüila, na Vila de São Paulo de Piratininga, havendo os membros eleito  tomado posse nos seus cargos na sessão de abril de 1680.

Fernando de Camargo não foi eleito, mas em 1682 voltou ao seu cargo de Juiz-Ordinário, deixando-o, não se envolveu mais nas agitadas disputas políticas que se seguirão até 1688. Capitão Fernando de Camargo Ortiz escreveu seu testamento a 2 de maio de 1685 na Vila de São Paulo, onde voltara a residir.

 Faleceu a 30 de agosto de 1690, sendo sepultado na Capela dos Terceiros de São Francisco. A sua mulher Joanna Lopes faleceu pouco depois, em 23 de janeiro de 1692.

 

 

 

O casal teve os seguintes filhos:

 

1.    Coronel Estevão Lopes de Camargo;

2.    Maria de Camargo;

3.    Mariana de Camargo;

4.    Catharina de Camargo;

5.    Vitória de Camargo

6.    Joana Lopes de Camargo;

7.    Anna Maria de Camargo;

8.    Izabel de Camargo;

9.    Fernando Lopes de Camargo;

10.                       Pedro Lopes de Camargo;

11.                       CEL. THOMAZ LOPES DE CAMARGO”;

12.                       Gonçalo Lopes de Camargo e

13.                       Capitão João Lopes de Camargo.

 

 

 

 

 

 

                              

 

 

 

 

 

 

                                      

 

 

 

 

                                        CARTA DO REI DE PORTUGAL

                                                                  A

                                    

                                      FERNANDO DE CAMARGO ORTIZ

 

 

                                                   Lisboa, 27 de setembro de 1664.

 

 

 

 

FERNANDO DE CAMARGO. Eu El Rei vos envio, muito saudar. Bem sei que não é necessário persuadir-vos, que concorrais da vossa parte com o favor necessário para o descobrimento das minas, a que envio Agostinho Barbalho Bezerra, considerando ser natural deste estado, e que como tal mostra particular desejo dos aumentos dele, esperando pela experiência dele, que tenho do bem com que até agora me serviu, e que assim o fará o que em tudo o que lhe encarregar, porque pela notícia que me tem chegado do vosso zelo, e de como houvestes em muitas ocasiões do meu serviço, me faz certo que vos dirá o que for necessário para este feito.

Encomendo-vos que façais toda assistência para que se consiga com o bom fim o que tanto desejo, o que eu quisera ver conseguido no tempo e posse destes meus reinos, entendendo que, hei de Ter muito particular lembrança de tudo que fizerdes nesta matéria, para vos fazer mercê e honra, que espero me saibais merecer.

 

 

 

(Secreto. ultr. Liv. das cartas reais das conquistas TTO 1.664 Pag. 332 v. a Seg.)

 

 

 

 

 

 

 

 

            

         Coronel

“Thomaz Lopes de Camargo”

 

 

Os primeiros descobridores de ouro, em Minas Gerais, eram homens que não mediam esforços e muito menos poupavam sacrifícios em busca do tão ambicionado ouro, que fascínio descomedido exercia esse metal, impelindo-os no febril afã por entre serras e florestas? Não conseguiam detê-los as chuvas torrenciais que encharcavam até os ossos, nem o sol implacável que os seguia por toda à parte, nem os caudalosos rios com suas corredeiras e júpias que tragavam homens e canoas, nem mesmo os pântanos traiçoeiros infestados de miasmas e de terças malignas, que destruíam fibra por fibra a mais robusta compleição. Feras e répteis venenosas cuja picada prostrava fatalmente, nada enfim os demovia do cego e obstinado objetivo.

Disputavam palmo a palmo com os silvícolas a posse dos sertões e não raras vezes a sorte pendeu para os primitivos donos. Alimentavam-se muitas vezes de raízes quando, na falta de caça ou dos frutos das campanhas. Na falta desses, lançavam mão de içás e outros insetos. No desespero da sede, mascavam folhas de vegetação silvestre e chegavam até a sorver o sangue ainda quente das caças recém-abatidas.  

Com o decorrer do tempo, quando já iam longe os dias da partida, suas vestes não eram mais do que andrajos, entendiam-se na língua dos índios, influência do contrato íntimo com os cativos que engrossavam as fileiras da Bandeira.

Adotavam os costumes e encampavam suas crenças. Não eram mais do que um grupo semi-bárbaro cuja idéia não lhes permitia enxergar mais do que o ouro e, para consegui-lo, eram válidas todas as ações.

O Coronel Thomaz Lopes de Camargo, nosso sétimo avô, em linha direta masculina chegou à região da futura Vila Rica influenciado por seu tio o Alcaide-Mor Joseph de Camargo Pimentel o qual foi uma personalidade curiosa, como podemos verificar através de um dos documentos mais importantes da história primeva das Minas Gerais que é o apógrafo do Coronel Bento Fernandes Furtado de Mendonça.

Este mesmo apógrafo serviu de base também para o célebre poema fundamento histórico de Vila Rica do poeta inconfidente Cláudio Manuel da Costa.

Esta narração neste documento que Francisco Bueno da Silva, primo de Antônio Roiz Arzão que na realidade foi o primeiro descobridor de ouro  em Minas Gerais em 1693, descobriu uns ribeiros auríferos e convidou amigos e parentes entre estes o alcaide-mor Joseph de Camargo Pimentel para lavrar de meias uma grandiosa pinta que tinha das datas que lhe coube, entre os quais Bueno e Camargo sucederam um caso digno de memória em abono da liberalidade de um e mais avareza do outro. E o caso: (ainda que cause digressão o fio da história).

De sorte que na distância de 30 e 40 dias de jornada que havia das minas a São Paulo,  partia sem provimento algum e muitos acabaram de fome sem remédio. E houve tal que matou ao seu companheiro por lhe tomar com sua tenaz de pau uma pipoca de milho que do seu borralho saltou para o do outro dos poucos grãos que cada um tinha para alimentar a vida naquele dia, aprovando-se por este caso como realidade o provérbio comum de que “ a fome não tem lei”. SIC

Homens dotados desta mesma têmpera eram os companheiros da Bandeira do Coronel Thomaz Lopes de Camargo, um dos primeiros descobridores de ouro nas Minas Gerais e também um dos fundadores de Vila Rica, hoje Ouro Preto.

Corriam os anos de 1690 a 1701, o Taubateano Antonio Dias de Oliveira, os Piratininganos Coronel Thomaz Lopes de Camargo e seu irmão João Lopes de Camargo, Francisco da Silva Bueno, Felix de Gusmão, o Padre João Faria Fialho, natural da Ilha de São Francisco e Capelão da Bandeira, seu cunhado Antonio Gonçalves Viana e outros, surgem pelas montanhas e atravessam os sítios onde hoje se situa Campo Grande (Minas Gerais), instalando-se nas vertentes, não sem antes terem de vencer sérios obstáculos.

Thomaz Lopes de Camargo se apossa de lavras que depois passariam a Francisco Bueno da Silva, primo de um dos vários Bartholomeu Bueno da Silva, e cunhado dos irmãos Lopes de Camargo.

Após a chegada às paragens acima mencionadas, a bandeira subdividiu-se, como sucedeu posteriormente a outras, tendo estes primeiros descobridores feito à distribuição das terras entre si. A Antônio Dias coube todo o trecho compreendido entre o Ribeirão Tripui e as posses do Padre Faria, a Felix de Gusmão, o Passa-Dez; aos Irmãos Lopes de Camargo a Vertente da Serra, conhecida através da tradição como Arraial dos Paulistas; a Francisco Bueno da Silva, o córrego abaixo de Campo Grande, que se  chama hoje Ouro Bueno.

O arraial de Antonio Dias prosperou muito, bem como o do padre Faria, tendo sido ambos citados pelo Governador-Geral Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho em 1711, pelos bons serviços prestados por eles à coroa.

Os Irmãos Lopes de Camargo mineraram ali por algum tempo e não se sabe por quais razões abandonaram suas primitivas posses e, juntamente com um outro irmão, Gonçalo Lopes de Camargo, dirigiram-se mais para o norte descobrindo ali um ribeirão aurífero, onde fundaram um arraial que passou para história como Arraial dos Camargos, que hoje pertence ao distrito de Mariana e conta com 500 habitantes aproximadamente.

Os primeiros anos da mineração nas Gerais decorreram de forma desordenada, fenômeno coexistente com os grandes afluxos de pessoas que convergem a uma determinada área, atraída pela perspectiva de fortuna fácil. Durante esta época, foi comum o enriquecimento rápido de vários indivíduos. Fruto talvez de um trabalho árduo para alguns, porém, muitos chegaram à situação cômoda da riqueza por meios inescrupulosos onde com certeza não foram poucos os roubos, assassinatos, e demais crimes.

Durante este mesmo período, verificou-se a guerra dos Emboabas a qual custou não só muitas vidas, como também, muitas das posses auríferas dos Paulistas.

Em virtude destes fatos, a governança decidiu pôr fim àquele estado de coisas, objetivando, não somente dar estrutura social aos arraiais que cresciam, acentuadamente, bem como, recolher os impostos para melhoramentos públicos e fiscalizar a extração do ouro protegendo desta forma a Fazenda Real.    

Por ordem do Governador e Capitão-General Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, foi eleita a primeira junta, para que a mesma procedesse à escolha dos Homens Bons para serem os oficiais da câmara da Nova Vila oriunda da fusão das paróquias de Ouro Preto e Antonio Dias.

Com efeito, a 14 de julho de 1711, estavam empossados os oficiais da primeira câmara das Minas Gerais, e por carta-régia de 15 de dezembro de 1711, D. João V, confirmou a criação da Vila que passou a chamar-se Vila Rica de Ouro Preto.

Aos primeiros “Homens Bons” sucederam outros, que com o decorrer do tempo, foram firmando a administração de Vila Rica, as primeiras cartas de sesmaria foram concedidas, e as primeiras patentes de oficiais nos regimentos auxiliares da capitania foram angariadas.

Confirmando este processo de evolução, descobrimos que existe no arquivo público Mineiro, uma coleção de documentos que trazem informações a respeito das ocorrências de Pitanguy, sendo que no documento de 8 de agosto de 1713, cod.9  fls. 141, por provisão de D. Braz Balthasar  Silveira, foi nomeado e provido João Lopes de Camargo no posto de Capitão de uma companhia do terço dos auxiliares de Pitanguy.

Pois bem, embalde inúmeras pesquisas, não foi possível conseguir informações concretas, porém julgamos perfeitamente válidos, presumir-se que Thomaz Lopes de Camargo tenha sido provido com a patente de Coronel por um ato governamental semelhante.

Pois naquela época, somente aqueles que se destacaram, politicamente, e mostraram-se em atender os interesses da coroa receberam tais privilégios e distinções.

O Coronel Thomaz Lopes de Camargo parece ter sido pessoa de posses, pois a sua descendência demonstrou ter recebido uma educação, relativamente, boa dentro dos recursos da época. 

O Coronel Thomaz Lopes de Camargo foi casado com Paula da Costa Paes, filha do Capitão Martinho Paes de Linhares, falecido em 1714, e de Izabel da Silva, neta paterna de Manuel Pacheco Gatto e Anna da Veiga.

A data do falecimento deste ascendente não foi possível descobrir, porém segundo o registro do cartório de órfãos de São Paulo, ele foi inventariado no ano de 1756.

O casal teve os seguintes filhos:

 

1-    Ignacio de Camargo Paes;

2-    JOSÉ DE CAMARGO PAES”;

3-    Rita Maria de Camargo;

4-    Francisco de Camargo Paes;

5-    Frei João de Monte Serrat;

6-    Vicente Ferrer de Camargo;

7-    Anna Maria de Camargo Paes;

8-    Luiza de Camargo Paes e

9-    Benta Paes de Camargo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DADOS DESTE PERÍODO QUE CONSIDERAMOS IMPORTANTES, OS QUAIS DETALHAMOS A SEGUIR:

 

Pe. Salvador de Camargo Lima era natural de Cotia. Seus pais eram Maria de Lima Siqueira e o Capitão-Mor Fernando Lopes de Camargo, irmão do fundador da cidade Capitão Estevão Lopes de Camargo. Antes de assumir o cargo de vigário da freguesia de N .Sra. de Monte Serrat em 1759, Pe. Salvador já trabalhava como coadjutor do seu antecessor Pe. Antonio de Toledo Lara.

Num espaço de sete anos recebeu três visitadores: Pe. Luís Teixeira Leitão (1761), Pe. Policárpio de Abreu Nogueira (1765) e Pe. Antonio José de Abreu (1768).

Pe. Matheus de Laya Leão era o filho mais velho de uma família de doze irmãos. Seu pai se chamava também Mateus de Laya Leão e era casado com Leonor Domingues de Camargo, ambos moradores e naturais de São Paulo, embora fregueses da paróquia de Cotia. Dona Leonor era filha de Fernão de Camargo. O irmão do Pe. Matheus, o capitão João de Laya Leão, foi sepultado debaixo do altar na Igreja nova conforme o seguinte assentamento.

“Aos trinta e um de dezembro faleceu o capitão João de Laya Leão, marido de Joana de Azevedo Sã, filho de Mateus de Laya Leão e Leonor Domingues de Camargo, moradores e naturais de São Paulo, fregueses desta freguesia, com todos os sacramentos. Foi sepultado nesta Igreja abaixo do altar e do cruzeiro de N. Senhora da Conceição. Foi testamento em que pediu dezoito missas por sua alma e pagou covagem. As quais missas eram ditas o que juro inverteo Parechi”. Assinado Pe. Salvador Garcia Pontes; e “Declaro que foi aos trinta e um de dezembro de mil setecentos e trinta e cinco. Dic. ut supra. Salvador Garcia Pontes”(Assentos dos defuntos In: O primeiro livro de batizados da Paróquia de Cotia 1723/1749,pag. 86).

O pai de Pe. Matheus de Laya Leão faleceu em 1698 e ocupava honrosos cargos em seu tempo(cf. Silva Leme, op. cit. Vol. 1,1903, pag. 316). Como na época havia a briga entre as famílias Pires e Camargo, o Pe. Matheus, da família Camargo, talvez tenha recebido a provisão de vigário da Igreja quando a sua família estava em vantagem!

O Coronel Estevão Lopes de Camargo era primeiro de treze irmãos, casou-se com Isabel Paes de Siqueira em 1696 com a qual teve oito filhos. Uma das filhas, Maria Paes de Camargo, inclusive, casou-se na nova Igreja Matriz, com João Lopes da Cunha, natural de Mogi das Cruzes. Tudo registrado no livro de casamentos de Cotia 1728/1749, pag. 50V.

Pe. Fernando Lopes de Camargo era natural de Cotia e foi batizado na Igreja Matriz aos 28 de junho de 1756 pelo Frei Francisco de Jesus Camargo, religioso Franciscano.

Era filho do Capitão Ignácio Soares de Barros e de sua mulher Marta de Camargo Lima. Era neto, pela parte paterna, do Sargento-Mor Roque Soares de Medella e de sua mulher Ana de Barros. Neto, pela parte materna, do Capitão Fernando Lopes de Camargo e de sua mulher Maria de Lima Siqueira. Tinha dois tios padres: Pe. Rafael Antonio de Barros (filho do Sargento-Mor Roque Soares) e Pe. Salvador de Camargo Lima (filho do Capitão Fernando Lopes de Camargo).

Nos registros da Câmara de Cotia, o fundador dessa cidade é Capitão Estevão Lopes de Camargo. Em vários registros, notamos que o nome desse nosso antepassado era escrito das duas formas, isto é, Estevam e Estevão.

Observação: O Padre Diogo Antonio Feijó “Regente Feijó” era um Camargo por parte de mãe conforme descrevemos; Foram seus pais Pe. Manuel da Cruz Lima e Maria Joaquina de Camargo; para que a família Camargo não viesse a sofrer com um escândalo social, deram-lhe  o sobrenome do português Miguel João Feijó, já falecido,  que era casado com sua tia Maria Gertrudes de Camargo.

“Político e sacerdote brasileiro nasceu em São Paulo em 03-08-1784 e faleceu 10-11-1843. Senador e regente do império no período de 12-10-1835 a 18-09-1837 declarava-se” “filho de pais incógnitos”. Ordenou-se em 1809. Como padre e professor, viveu em São Paulo, Cotia, Campinas e Itu, onde se fixou em 1818. Foi deputado às cortes de Lisboa (1821-22), formando no grupo brasileiro que se recusou a assinar a constituição portuguesa. Deputado-geral (1826-31) logo após a abdicação de D. Pedro I assumiu o ministério da Justiça, destacando-se como sustentáculo da legalidade. Senador pelo Rio de Janeiro (1833), elegeu-se regente em 1835, posto a que renunciou dois anos depois. Presidente do Senado (1839), retirou-se à sua província, participando da revolução liberal de1842. Preso e deportado para Vitória, obteve licença para retornar a São Paulo, vindo a falecer enquanto aguardava o pronunciamento do Senado. Pertencendo à corrente “moderada”, que se opunha aos exaltados (republicanos) e caramurus (restauradores), o padre Feijó é considerado um dos fundadores do partido liberal. Perante a Igreja Católica, assumiu posição não-ortodoxa, defendendo a abolição do celibato clerical e a designação dos bispos pelo Estado. Homem ríspido, inflexível, dispensava as honrarias, tendo recusado a nomeação para bispo de Mariana.”

Pe. Fernando Lopes de Camargo batizou Diogo Antonio Feijó. Era ainda subdiácono quando Diogo foi batizado na Sé aos 17 de agosto de 1784 como consta no seguinte atestado: “Aos 17 de agosto de 1784 nesta Sé, batizei e pus os Santos Óleos a Diogo, filho de pais incógnitos, exposto em casa do Ver. Subdiácono Fernando Lopes de Camargo; o mesmo foi padrinho, e Maria Gertrudes de Camargo, viúva. Todos desta freguesia, do que fiz este assento que assinei”  o coadjutor José Joaquim da Silva (Livro dos Batizados da Sé, 1784/1788 pag. 2V).              

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                

 

 

                                                  ADENDUM

 

                              CEL. THOMAZ LOPES DE CAMARGO

 

Deste perigo inevitável se retirou o nosso Alcaide-Mor Camargo para São Paulo no ano de 1700 (verdadeiramente nesta terra a era dourada; e para Portugal a de maior felicidade), com a sua comitiva e escravatura, como faziam os mais ministros que não tomavam a resolução de se transmontarem pelo sertão dentro e campos gerais, a procurar os lugares mais desertos, menos combatidos e mais férteis de viveres silvestres, na entrada do ano de 1700.

E no princípio do verão deste mesmo ano voltaram outra vez os retirados para São Paulo e os refugiados nas montanhas a tempo que já os mantimentos plantados no de l699 estavam capazes de socorrer no de 1700.

Entre este veio o nosso Alcaide-Mor prevenido para fazer também diligência de descobrimentos.

E, com efeito, passando a mesma serra, que da parte do poente, vertente do Rio das Velhas, havia dado a primeira grandeza, que com o Bueno haviam tirado para a parte do nascente seguindo a mesma serra, a vista dela, que vai fazer na sua ponta a situação das Catas Altas, em meio de sua distância descobriu um ribeirão chamado O Camargo, herdando do seu descobridor o seu glorioso apelido, dando em satisfação de sua generosa diligencia, haveres de ouro que ainda hoje duram conservando povo bastante que forma uma freguesia e bom rendimento eclesiástico.

Depois de dar a partilhas este descobrimento e lavrar as suas datas pelo modo daquele tempo, aproveitando só o fácil, deixando o melhor e mais custoso para os vindouros, continuou a penetrar o sertão a parte oriental seguindo o rio Piracicaba que  é o mesmo que dizer lugar aonde o peixe chega vindo das barras do mar e dali não passa para cima, por impedido das cachoeiras muito altas que não podem avançar; pelo qual rio foi vendo algumas faisqueiras limitadas até chegar ao lugar onde se descobriu um ribeiro pequeno, braço do mesmo Piracicaba que corre da parte esquerda da sua corrente de umas assinaladas serras, que de muito longe um altivo pico que levanta ao céu serve de sinal daquele lugar como padrão que Deus quis pôr para ser buscado e achado pelo tão padrão, como boas e grandiosas pintas, onde se assustou e fez capela com a invocação de São Miguel e se administraram os sacramentos por um capelão que consigo trazia.  

Neste lugar viveu algum ano bastante, acompanhado de dois filhos homem. Como a sua idade e a providência do altíssimo já o chamavam para o descanso prometido aos bons lhe destinou uma enfermidade que logo ameaçou com perigo de vida.

Neste tempo se empenhava o Capelão que fizesse seu testamento, não uma só, mas muitas vezes a que ele respondia com alguma paixão, dizendo não carecia de testamento porque o que ele possuía era para pagar o que devesse e o que sobrasse era de sua mulher e filhos; os quais estavam presentes e eram capazes de sua administração, razão por que lhe rogava e não amofinasse com tal testamento e não agravasse mais a sua enfermidade a qual sem embargo que ia a crescimento cada vez mais, o Capelão ainda que pouco satisfeito de recusar o doente seu testamento continuou a admoestá-lo para se confessar e sacramentar-se; ao que repugnou muitas vezes dizendo: não era ainda tempo e quando fosse ele teria o cuidado de o chamar, com cuja resposta se afligiu e desconsolou muito o Capelão supondo ao enfermo impenitente ou remitente, vendo a doença em crescimento cada vez mais.

O tempo, porém, ou o sucesso mostrou o contrário com evidência de mistério superior, merecido talvez de alguma devoção particular da rainha dos anjos Maria Santíssima e foi o caso.

Chegando um dia, de sábado, muito antes que rompesse o dia, se pôs a pé, e se vestiu com um dos melhores vestidos, que tinha, e pós-cabeleira, e o espadim a cinta (e não cause isto maravilha para aquele tempo em que todos os mais homens se trajavam parcamente com os vestuários sertanistas, e deste sempre vestindo como no corte, com vestidos ricos) e mandou dizer ao Capelão ao romper do dia, que era tempo de ouvir confessar, e sacramentar.

O que ouvi o Capelão com Júbilos de alegria, vindo prontamente e o confessou, percebendo com toda a perfeição, juízo e talento de corte, como senão estivesse tanto tempo enfermo, e mandou armar altar no mesmo aposento, onde disse missa, e a ouviu o enfermo de joelhos, e recebeu o sacramento.

Acabando o ato se despediu e deitando-se na cama, pediu ao Capelão lhe assistisse com cuidado, que era chegado o tempo da sua partida, e entrou na agonia acabando a vida com graves demonstrações de predestinado, que sem dúvida seria, pois era homem caritativo, de bom ânimo, liberal, e de bem fazer, isento de soberanias, a que inclina a riqueza, e respeito que sempre logrou em sua vida.                 

 

 

 

 

           Capitão

   “José de Camargo Paes” 

 

 

Corriam os anos de centúria setecentista e longe iam os tempos das lutas e desforços envolvendo a Paulistas e Emboadas, lutas frutos das intromissões de inúmeros aventureiros e oportunistas lá atraídos pelas perspectivas de enriquecimento rápido. Também o envio de representantes do governo colonial às  Minas Gerais, com o objetivo de organizar a mineração e proceder a quintagem de ouro real concorreu sobremaneira para os entreveres entre Paulistas e Reinos.

         Não obstante essas dificuldades, alguns Paulistas lá permaneceram, constituíram família, fundaram novos arraiais. Entre os que lá permaneceram, conta-se que um dos tios do Capitão José de Camargo Paes, João Lopes de Camargo, ali se fixou, definitivamente, em 1713, vindo a comandar um terço dos auxiliares de Pitanguy e vindo a falecer em São Sebastião do Paraíso, em 1756.

Outros, porém, enriqueceram nas minas e, saudosos de seus lugares de origem, retornaram às antigas pousadas, para viverem tranqüilamente com o cabedal amealhado após duros sacrifícios. Entre esses, podemos citar os Irmãos Pedrosos de Barros, os irmãos Manuel, Francisco e Antonio Rodrigues Penteado e o Coronel Thomaz Lopes de Camargo.

Este último retornou a Cotia onde a essa época existia um reduto do clã dos Camargos,  muitos dos quais possuíam inúmeras propriedades agrícolas e controlavam a política local. Foi por essa época, precisamente, 1713, que o Coronel Estevam Lopes de Camargo mandou erigir a atual Matriz de N.S. do Monte Serrat. Anteriormente, esta imagem era venerada em uma capela erigida por Fernão Dias Paes e Gaspar de Godoy Moreira. A atual  matriz de Cotia foi curatelada pelo Bispo do Rio de Janeiro D. Francisco de São Jerônimo e seu primeiro pároco foi o padre Matheus Latraia de Leão.

Prosseguindo em nossas averiguações, descobrimos que entre os filhos do Coronel Thomaz Lopes de Camargo o Capitão José de Camargo Paes foi o que mais se destacou na vida pública, sendo de presumir que se deva isto ao fato de ter ele sido educado pelos jesuítas que mantinham atividades catecúmenas e educadoras naqueles sítios. Essa nossa assertiva é suportada, como iremos ver adiante, pela atuação do Capitão José de Camargo Paes, nos diversos cargos que ocupou.

O Capitão José de Camargo Paes nasceu em Cotia, tendo se casado em 1757 na Igrejinha até hoje (1977)  existente na aldeia de Carapicuíba,  com Bárbara Paes de Barros.

Essa informação comparece em Silva Leme vol. I e podemos comprová-la através da reprodução aqui dos assentamentos que pertenceram à Paróquia de Santana de Parnaíba, hoje recolhidos aos arquivos da Cúria Metropolitana de São Paulo a nós, gentilmente, cedidos pelo Dr. Francisco Alberto Veiga de Castro, que os copiou pessoalmente.

Por esse documento, muito caro para nós, vamos reproduzir os assentamentos, em sua íntegra, como segue:

“livro de casamentos do ano de 1757 da Parochia de Pernahyba, fls. 187, verso: José de Camargo Paes com Barbara Paes de Barros...aos quinze dias do mês de fevereyro de mil sette centos cinqüenta e sette annos com provizam do excellentissimo senhor Dom Frey Antonio de Madre de Deus bispo desta Diocese, que se me apresentou para celebrar-se este matrimônio na Cappela dos Reverendos Padres da Companhia da sua Aldeya de Sam Juam de Carapicuyba nesta ditta Cappela pelas onze horas da manhã pouco mais ou menos com licença minha e presença do reverendo Padre Mestre Manoel Pimentel, da companhia de Jesus, superior da Villa Aldeya, se recebeu por palavras dizente na forma do sagrado Concil Trident e Consist. Precedendo provizam do Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral, José de Camargo Paes, natural e batizado na Freguesia de Monserratte do Cottia, onde he morava, filho legítimo de Thomaz Lopes de Camargo e de Paula da Costa Paes, já defuntos, com Barbara Paes de Barros natural e batizada na Freguesia de Sam Paulo e moradora nesta freguesia da Pernayba filha legítima de Antonio Rodrigues Penteado, e de Rosa Maria;  foram testemunhas alem de várias pessoas que se achavam presentes, Francisco de Camargo Paes, homem casado, Luiza de Camargo Paes, melher de Antonio Fernandes Nunes da Freguesia do Cottia, Thereza de Jesus, digo Josefa Paes, mulher de Salvador Furtado da mesma Freguesia do Cottia e Antonio Corrêa Lemos, homem casado desta Freguesia de Pernayba, e logo no mesmo dia, mês e hora receberam os dittos contrahentes as bensoesns, que a igreja determina, de que faço este assento, em que me assiguo com as duas testemunhas abayxo assignados assistindo eu também a celebraçam do mesmo matrimônio.

Dia, mês e anno, esta supra o vigário Manoel Mendes de Almeyda, Antonio Correa Lemos, Francisco de Camargo Paes”.

O Padre Manoel Mendes de Almeyda, formado em Canones, protonotário, vigário colado de Santana de Parnaiba, toma posse a 26 de julho de 1739 e lá morreu a 20 de abril de 1782, sendo substituído pelo seu coadjutor, Padre José Rodrigues de Oliveira. Antonio Fernandes Nunes Português compareceu em S.L. vol. I pag. 28l, quando menciona sua mulher, ser ela filha de Thomaz Lopes de Camargo.

O Capitão José de Camargo Paes após seu casamento morou durante algum tempo em Cotia, onde nasceram seus filhos; posteriormente, mudou-se para São Paulo aonde veio a falecer a sua mulher Bárbara Paes de Barros, tendo sido inventariada em 1773.

Durante o tempo em que morou em São Paulo exerceu cargos públicos, tendo sido Ouvidor no Processo do Caetaninho,  por volta de 1781.    

Parece-me conveniente uma breve explanação sobre o que consistiu a culpa do infeliz Caetaninho. São Paulo teve na Segunda metade da era setecentista um dos mais deploráveis Capitães Generais que exerceram a Governança da Capitania. Refiro-me a Martim Lopes Lobo de Saldanha, que além das muitas injustiças e desmandos que praticou, atuou em causa própria como Juiz do fato assassinando juridicamente o Caetaninho.

Pois bem, no dia 16 de setembro, a comitiva do Capitão General, que se encontrava inspecionando os reparos do caminho do mar, à tardezinha, findo os trabalhos, escolheu na fazenda dos padres Beneditinos um local chamado São Caetano, para pousar,  tendo o pessoal em trânsito e os moradores daquele sítio, após o jantar, improvisado um fandango. Pelas tantas, desconhecem-se os motivos o trombeta do regimento dos voluntários reais desentendeu-se com o filho do Capitão-General Antonio Lobo de Saldanha, de quem era companheiro de orgias, ferindo-o com uma faca, motivo pelo qual foi preso e julgado em um simulacro de julgamento, após o qual foi executado em cadafalso.

Em 1793 o Capitão José de Camargo Paes, contraiu segundas núpcias em Itu, com Ignacia de Arruda, viúva de Antonio Soares da Costa. Após este segundo casamento mudou-se para a então Freguesia de Campinas de Matto Grosso, (atual Campinas) onde vemo-lo em 1797, participando ativamente do cenário político desta localidade.

No alvorecer do ano de 1797 iniciou-se naquela Freguesia um movimento autonomista visando sua emancipação da câmara de Jundiaí, tendo sido então preparada uma petição onde o vigário Joaquim José Gomes encabeçava a lista seguida em segundo lugar pelo Capitão José de Camargo Paes e mais quarenta e sete subscritores. Junto com essa petição segue uma certidão passada pela vigararia da existência de “61 HOMENS BONS”, inscritos na documentação referente às solenidade oficiais de instalação da Vila e de investiduras nos cargos do conselho.

O resultado não se fez por esperar e a 14 de dezembro de 1797, por força de uma portaria do Capitão-General da capitania de São Paulo, realizou-se solenidade da instituição comunal.

Veio à Campinas de Matto Grosso o Ouvidor-Geral da comarca, Dr. Caetano Luís de Barros Monteiro, sob  cuja presidência e em presença de Juiz Presidente e oficiais da câmara de Jundiaí, reuniram-se a nobreza e o povo do lugar, mandando o Ouvidor-Geral que se apregoasse em altas vozes a ereção desta povoação em Vila com a denominação de São Carlos.

Foi levantado, bem no centro do Largo da Matriz um Pelourinho que consistia em um “Pau de Cabreúva Oitavado”, demarcou-se o local os “Paços do Conselho  e Cadea ficando-se Três Estacas em Sinal de Onde há de Principiar a Obra”, declarou-se o rossio, que o território das instituições da Justiça e da administração.

Em 15 de dezembro realizou-se a eleição do Conselho. E então os HOMENS BONS as mais conceituadas pessoas como eram tratadas aquelas épocas, procederam à escolha dos Juizes Ordinários, Vereadores, e Procurador da primeira câmara de Campinas.

Obteve votação, unânime para Juiz Ordinário o Capitão José de Camargo Paes, nome com o qual o vigário Joaquim José Gomes havia iniciado a lista dos Homens Bons, ex-ouvidor de São Paulo, ancião de enorme conceito, tronco de numerosa e nobre geração Campineira e Tieteense.

O Juiz companheiro foi o primeiro advogado de Campinas Dr. José Barbosa da Cunha, Bacharel em Coimbra (Portugal), posteriormente preso a Fortaleza de Santos por motivos políticos.

Eleitos os Juizes e Vereadores, preparavam-se eles para assumir os seus mandatos, quando o Ouvidor-Geral manifestou-lhes o desejo do Capitão-General da Capitania, Antonio Manuel de Mello Castro e Mendonça, de ver um seu protegido e filho de Jundiaí, de nome Raimundo Álvares, incluído na listra tríplice composta pelos juizes mais votados o que significa sua virtual escolha para Capitão-Mor da Nova Vila de São Carlos.              

Porém a altivez da rija fibra Campineira falou mais alto, recusando-se, obstinadamente e manter ao desejo indecoroso do Capitão-General da Capitania, visando integrar no mais alto posto da administração civil e militar um intruso e aventureiro.

O Ouvidor-Geral, por sua vez, também se recusou a dar posse aos camaristas e voltando a São Paulo relatou os fatos que levaram o Capitão-General ordenar a dissolução da primeira câmara e realização de nova eleição.

Aos 26 de abril de 1798 nova câmara é eleita e empossada, em seção realizada na casa residencial do Juiz Presidente Alferes Antonio de Camargo Penteado,  filho do Capitão José de Camargo Paes.

Ao findar o mandato destes camaristas, nova eleição foi procedida, cuja posse deu-se a 1º de janeiro de 1799, pelos seus componentes de grande prestígio: Juiz Ordinário Presidente, Capitão José de Camargo Paes, que havia já sido eleito na primeira e dissolvida câmara, demonstrando o seu prestígio, não obstante, sua avançada idade.

Em 1801 encontramos o velho Capitão, batizando seu primeiro neto, Antonio Gonçalves de Camargo Penteado, primogênito do seu filho mais velho o Capitão das Ordenanças José de Camargo Penteado, político de prol em Porto Feliz e do qual iremo-nos  ocupar no próximo capítulo desta nossa peregrinação ao tempo de nossos antepassados.                     

Foi esse nosso quinto avô, que teve como já visto no sobrenome “PAES”, bem como foi ele que na maioria dos seus filhos acresceu o “PENTEADO”, sobrenome este do seu sogro Antonio Rodrigues PENTEADO.

 

 Tendo sido falecido em Campinas em 11 de setembro de 1804.

 

 

 

O Capitão José de Camargo Paes, casado duas vezes, teve filhos apenas com a primeira esposa, conforme segue:                        

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    1- CAP. DE ORDENANÇAS JOSÉ DE           CAMARGO PENTEADO”;

              2-  Alferes Antonio Pompeu de Camargo Penteado;

    3- Reducindo de Camargo Penteado” casado com    Antonia Gonçalves de Arruda Oliveira, avós de José Ribeiro de Camargo, um dos fundadores de Jaú (SP);

    4- Capitão-Mor Floriano de Camargo Penteado;

    5- Gertrudes de Camargo Penteado;

   6- Manoela de Camargo Penteado;

   7- Capitão Joaquim de Camargo Penteado;

   8- Anna Esmeria de Camargo;

   9-    Thereza de Camargo Penteado e

 10-    Bárbara Paes de Barros.

                       

 

      

   Capitão de Ordenanças

“ José de Camargo Penteado”   

 

 

Este membro de ascendência direta em quinto grau, como vimos, anteriormente, foi primogênito do velho Capitão José de Camargo Paes. Nasceu na então Vila de Cotia, em data  desconhecida, embalde os nossos esforços em localizá-la. Viveu José de Camargo Penteado na Vila de Cotia até a mudança para São Paulo onde como visto anteriormente seu pai exerceu o cargo de Ouvidor.

Notem os senhores descendentes do Capitão José de Camargo Penteado, o retorno dos Camargos, havendo um pequeno hiato quando se dedicaram mais às atividades sertanistas.

A esta altura, este trabalho resumir-se-á em ordenar as pegadas do Capitão José de Camargo Penteado tomando como base informações amealhadas e dispostas de modo a obedecer a um critério cronológico.

O Capitão de Ordenanças José de Camargo Penteado casou-se em Itu, em 1790 com Anna Joaquina de Arruda, filha de Antonio Gonçalves de Barros e de Rita Pompeu Paes.

Por razões atinentes à preciosidade deste trabalho e outras de ordem sentimentais, as quais nos mantêm ligados à memória de nossos maiores, anexamos cópia da certidão de casamento nesta matéria.

Provavelmente dada às distancias e os precários meios de locomoção da época que pese os velhos Paulistas andarilhos notáveis, fato é que o velho Capitão José de Camargo Paes não assistiu a este casamento, pois não consta sua assinatura nos assentamentos.

José de Camargo Penteado talvez tenha morado no princípio da sua vida conjugal em Itu, porém vamos encontrá-lo morando em Campinas por volta de 1800.

Em 1801 batizou seu primogênito Antonio Gonçalves que teve por padrinho o seu avô paterno.

Um grande lapso de anos passados até que conseguimos localizá-lo novamente  em 1822 onde o nome de José de Camargo Penteado aparece em papéis políticos da Câmara de Porto Feliz (SP) e onde se encontra morando naquela data. Em 1822 sabemos que assistiu ao casamento do seu primogênito Antonio Gonçalves de Camargo o qual compareceu como freguês de Capivary. Erecta aquela Freguesia em 1822 somente em 1833 foi desligada de Porto Feliz e em cujos documentos do evento comparece a assinatura de José de Camargo Penteado.

No mesmo ano de 1822 temos notícias que o Capitão de Ordenanças José de Camargo Penteado e um dos co-assinantes da ata de vereança da câmara de Porto Feliz de 12 de outubro confirmando a adesão desta comarca a Independência do Brasil e reconhecendo D. Pedro I como o Primeiro Imperador do Brasil.

Novamente seu nome comparece no cenário político de Porto Feliz em 1825 onde rubricou os livros para as eleições naquela comarca.

Mais além por volta de 1834 ficamos sabendo que foi padrinho do seu primeiro neto José Braulio de Camargo Penteado, filho do seu sétimo filho Capitão Joaquim  de Camargo Penteado.

O Capitão de Ordenanças José de Camargo Penteado faleceu em Tietê, no ano de 1857.

 

Capitão de Ordenanças José de Camargo Penteado, casou-se duas vezes, sendo em primeira núpcias com Anna Joaquina de Arruda, com a qual tiveram nove filhos, e em segunda núpcias com Anna de Almeida Bueno, dois, os quais seguem:

 

 

 

 

 

1.     Capitão Antonio Gonçalves de Camargo;

2.     Francisco de Camargo Penteado;

3.     Maria Annunciação de Camargo;

4.     Anna Joaquina de Arruda;

5.     Maria Clara de Camargo;

6.     “JOSÉ DE CAMARGO PENTEADO”;

7.     Capitão Joaquim de Camargo Penteado;

8.     Gertrudes de Camargo (casou-se com Jerônimo Pedroso de Barros, o qual era filho do Capitão Bernardo Bicudo Chassim, da Infantaria Auxiliar de Araçariguama); 

9.     Francisca de Camargo Penteado;

Da Segunda mulher

                    10.      Manoel de Camargo Penteado e

11.      Eduardo de Camargo.

 

                     

 

 

 

 

  “José de Camargo Penteado”

 

 

 

 

Casou-se com Maria de Arruda Leite, filha de Garcia Rodrigues Bueno e por este vinha a ser a sétima neta de Bartholomeu Bueno da Ribeira “O Sevilhano”, e de Francisca Leite de Arruda, sendo neta  paterna de Maximiliano de Oliveira Bueno e de Maria Custódia Bueno e pelo lado materno de Ignacio Leite Penteado e Maria Furquim de Almeida Prado.               Casou-se pela segunda vez com Maria Pires, que era bisneta materna da índia batizada por Pe. Anchieta com o nome de Antonia, e por Antonia era trineta do Cacique Piguerobi “Maioral de Uruguai”. Faleceu em Tietê, sp. aos 22/06/1907.

 

 

José de Camargo Penteado só teve filhos com a primeira esposa, os quais relacionamos abaixo:

 

 

 

 

 

 

1.     José Bueno de Camargo Penteado (casado com Thereza Ferraz de Almeida Prado);

2.     Antonio Bueno de Camargo Penteado;

3.     João de Camargo Penteado;

4.     FRANCISCO DE CAMARGO PENTEADO”;

5.     Joaquim de Camargo Penteado;

6.     Evaristo de Camargo Penteado;

7.     Honório de Camargo Penteado;

8.     Ana de Camargo Penteado (casada com seu primo Joaquim Almeida Campos) e

9. Candida de Camargo Penteado (casada com Thomaz Cornelio                              de Moraes.

 

 

 

 

 

 Capitão José Ribeiro de Camargo

            “Juca”

 

 

O primeiro descendente dos Camargos a vir para Jaú (antigamente escrevia-se “JAHU”), sendo considerado um dos fundadores dessa cidade.

       Capitão José Ribeiro de Camargo era natural de Itu, onde nasceu em 1.822, filho do Sargento-Mor José Ribeiro do Prado ou de Araújo, como também assinava e de Maria Angélica de Camargo. Pelo lado paterno eram seus avós João do Prado natural de Olivença, província de Alentejo, Portugal, casado com Felipa Vicente.

       Casou-se ainda muito jovem, tinha 18 anos, com sua prima Thereza Leite Penteado Paes de Barros de 16 anos, em Indaiatuba (SP), filha de Fernando Paes de Barros e Izabel de Campos Penteado. Após o casamento seguiram para Rio Claro (SP), onde fora tomar conta do engenho de açúcar e da fazenda de cana denominada Morro Azul, que pertencia ao seu sogro.

       Mas o seu instinto da raça brasileira, da qual ele descendia por ambos tronco paterno e materno “Tibiriça e Piqueroby”, que acordava no seu intimo, no seu subconsciente, despertando-lhe o inato espirito de independência, tornando-o sensível à sedução da mata virgem, era “chamamento do sertão”.

       Após a safra de cana no ano de 1.847 ou 1.848, comunicou a esposa que não mais ficaria naquele lugar e iria “possear” terras no sertão e posteriormente veria buscá-la juntamente com os filhos.

       Depois de percorrer por vários meses o sertão, demarcou a sua área que passou a denominar Fazenda Iguatemi, uma extensão aproximadamente de 5.000 alqueires.

       Demais dados, anexo.  

 

 

 

 

 

 

“Francisco de Camargo Penteado”

 

Nasceu em Tietê (SP) no ano de 1.831, casou-se em Piracicaba (SP) em 19 de janeiro de 1.855, vindo posteriormente residir em Jaú (SP), onde foi agricultor, falecendo em 19 de  novembro de 1.924. 

Casou-se com Maria Ferraz de Almeida Prado, natural de Capivari, filha de Joaquim Ferraz de Almeida e Antonia de Almeida Prado. Sendo neta paterna de João Ferraz Castanho e Ana Antonia Mendes de Almeida, bisneta de João Ferraz de Campos e Rosa Maria de Siqueira; sendo neta materna de João de Almeida Prado “O Coluna”.

A partir desse nosso tataravô, colocou-se no sobrenome o FERRAZ,  sendo também abolido o PENTEADO, que posteriormente seria novamente usado por alguns, para diferenciar-se um parente  do outro.

 

O casal teve os seguintes filhos:

      

1.     Maria Ferraz de Camargo, casada com seu primo Elias Ferraz de Almeida Prado, este, filho de Lourenço de Almeida Prado e de Anna Ferraz de Almeida Prado;

2.     “JOAQUIM FERRAZ  DE CAMARGO”, casado com Jovita Furquim Pereira, Filha de Joaquim Furquim Pereira e de Antonia Rodrigues de Carvalho;

3.     Sebastiana Amalia Ferraz de Camargo, casada com Francisco Bernardes da Costa, este, filho de Joaquim Bernardes da Costa e Josephina Abrantes;

4.     Francisco Ferraz de Camargo, casado 2 vezes; a primeira com Anna Candida Corrêa Leite, filha de Antonio Corrêa Leite e Maria da Conceição Ferraz Prado, e  a segunda com Anna Claudina da Costa Carvalho, filha de Marcelino da Costa Carvalho e Francisca Maria de Oliveira e Silva;

5.     José Ferraz de Camargo casou-se com sua prima Thereza Ferraz de Assis Bueno, filha de Antonio de Assis Bueno e de Anna (ou Áurea) Ferraz de Arruda;

6.     Elias Ferraz de Camargo, casado pela primeira vez com Francisca de Almeida Prado, filha de do Coronel Bento Lourenço de Almeida Prado e de Maria Gomes Coelho, e a 2º, com Branca de Mello, filha de Balduino de Mello Castanho Sobrinho e sua 2º esposa, Thereza de Almeida Mello,  e

                               7. Pedro Ferraz de Camargo.                                      

                

              “O COLUNA DE ITU”

 

   CAPITÃO MOR DE ITU JOÃO DE ALMEIDA PRADO                   

 

Era chamado “O Coluna de Itu”, por seus feitos militares. Foi ainda, “Cavalheiro do Hábito de Cristo e Prior jubilado da Ordem Terceira do Carmo”, títulos que conquistou mercê da grande estima e prestígio social, ao seu tempo.

Nasceu em Itu a 22 de setembro de 1.767, casou-se a primeira vez com Anna de Almeida Pedroso em outubro de 1.792, na Igreja Matriz de Itu, ela filha do Ajudante João de Almeida Pedroso, “O Moço”, e de Isabel Caetana do Pilar. A segunda com  Anna Brandina de Lara Góes e Aranha, na mesma Matriz de Itu, no ano de 1.816, filha do Capitão Mor de Itu Vicente da Costa Taques Góes e Aranha e de Alda Brandina do Mello Rego.

Faleceu em 20 de dezembro de 1.835 em Itu (SP).

 

Teve dos dois casamentos 20 (vinte filhos), sendo 10 (dez) em cada um, conforme segue:

 

1.          Capitão Francisco de Almeida Prado “O Chapa”, pai do Barão de Itaim;

2.          Maria de Almeida Prado;

3.          Elias de Almeida Prado;

4.          Lourenço de Almeida Prado;

5.          João Tibiriça Piratininga;

6.          José de Almeida Prado;

7.          Antonio de Almeida Prado;

8.          Anna de Almeida Prado;

9.          Izabel de Almeida Prado;

10.     ANTONIA DE ALMEIDA PRADO;

11.     Vicente de Almeida Prado;

12.     Francisco de Paula Almeida Prado;

13.     Lourenço de Almeida Prado;

14.     João de Almeida Prado;

15.     Pedro de Almeida Prado;

16.     Alda Brandina de Almeida Prado;

17.     Leonor de Almeida Prado;

18.     Anna Brandina de Almeida Prado;

19.     Gertrudes de Almeida Prado e

20.     Thereza de Almeida Prado.

 

Dos filhos do primeiro casamento, o terceiro, Tenente-Coronel Elias de Almeida Prado mudou-se para Piracicaba (SP), onde passou a se dedicar à lavoura de cana-de-açúcar; o neto João Tibiriça Piratininga, que tem o mesmo nome do pai e seu quinto filho, e que foi quem presidiu a “Convenção de Itu”, fixou-se em Indaiatuba, o mesmo ocorrendo com o sexto filho e pai da baronesa de Itaim. E a última ANTONIA, veio para Jaú, onde deixou várias gerações. Já dos filhos do segundo casamento, Vicente, Francisco de Paula, Lourenço, João e Leonor, por volta de 1.858 estavam residindo em Jaú, onde, os quatros primeiros irmãos e mais dois cunhados abriram a fazenda Pouso Alegre e muito contribuíram para o povoamento do município. 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                           JOAQUIM FERRAZ DE ALMEIDA

 

       Era casado com ANTONIA DE ALMEIDA PRADO, esta nascida em Itu a 31 de dezembro de 1.812 e falecida em Jaú a 28 de janeiro de 1.862. Casou-se em Itu no de 1.829 e tiveram os seguintes filhos:

 

               1.                 Anna Ferraz de Almeida Prado;

               2.                 “MARIA FERRAZ DE ALMEIDA PRADO”;

               3.                 João Ferraz de Almeida Prado e

                 4.    Thereza Ferraz de Almeida Prado (casada com José Bueno de                                  Camargo Penteado).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  “Joaquim Ferraz de Camargo”

 

 

Nasceu em Jaú (SP) no mês de abril do ano de 1861, agricultor, sua propriedade era localizada no Bairro de Pouso Alegre de Baixo, onde era conhecido por Camarguinho, também como o seu pai, não se envolveu em política. Casou-se com Jovita Furquim, filha de João Furquim Pereira e Antonia Rodrigues de Carvalho. Ambos faleceram em Jaú, sendo ele em 06-06-1917 e ela em 10-06-1942.

 

O casal teve os seguintes filhos:

 

 

1.    THEOTÔNIO FERRAZ DE CAMARGO”, casado com Lilia Barroso de Souza;

2.    Lázaro Ferraz de Camargo;

3. Pedro Ferraz de Camargo, casado com Maria Olímpia       de Almeida Prado;

4.    Leonidia Ferraz de Camargo, casada com Oscar de Souza Galvão;

5.    Maria Ferraz de Camargo, casada com Hernando Vilela;

6.    José Ferraz de Camargo, casado com Maria de Lourdes Pacheco;

7.    Bhertilia Ferraz de Camargo, casada com Homero Barroso de Souza;

8.    Olivia Ferraz de Camargo, casada com José Martins;

9.    Elvira Ferraz de Camargo, casada com Edgar Fraga Moreira;

10. Nelson Ferraz de Camargo;

11. Alcidia Ferraz de Camargo;

12. Jaci Ferraz de Camargo, casada com Breno Freitas Guimarães e

13. Euclides Ferraz de Camargo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   “Theotônio Ferraz de Camargo”                                              

 

 

          

 

          Natural de Jaú nasceu em 18 de fevereiro de 1891, foi agricultor em Pouso Alegre de Baixo e Bairro da Estrela, vila de Jaú, também procurou não se envolver em política. Casou-se com Lilia Barroso de Souza, nascida na Fazenda São Francisco, de propriedade de seu avô Anastácio Fernandes Barroso, na época Santa Thereza, hoje Rio das Flores (RJ) em vinte e cinco de janeiro de 1901 e falecida em vinte de março de 197l (irmã do polêmico Amaury Barroso de Souza), filha de Hércules de Souza e Maria Barroso. Faleceu em seis de janeiro de 1954.

 

 

 

         O casal teve os seguintes filhos:

 

 

 

 

                

1.     Maria de Lourdes Ferraz de Camargo, casada com Gilvecio Gonçalves da Silva;

2.     Jovita Ferraz de Camargo, casada com Sebastião Barroso de Almeida Prado;

3.     Zélia Ferraz de Camargo;

4.     Myrthes Ferraz de Camargo, casada com Milton Prado Lyra;

5.     Dilza Ferraz de Camargo, casada com Paulo Prado Sampaio e

6.     DARCY FERRAZ DE CAMARGO”, casado com Danyr Zanzini.  

 

 

 

 

 

  Darcy  Ferraz  de Camargo”

 

 

 

Natural de Jaú, nascido em quatro de novembro de 1932, aposentou trabalhando no Banco do Brasil S/A, casado em primeiras núpcias com Danyr Zanzini,   filha de Leonildo Zanzini (filho de Santo Zanzini e Angelina Ramanzzini, neto paterno de Gaetano Zanzini e Tereza Paganotti e neto materno de Giosuè Ramazzina e Filomena Carassini) e Percedes Maria Fregolente (filha de José Fregolente e Pierina Massinatori, neta paterna de Inocêncio Fregolente e Mônica Vila Nova, de nacionalidade Italiana e pelo lado materno, Paschoal Massinatori e Margarida Fagyan, ambos também Italianos); nas diversas pesquisas realizadas, os sobrenomes Zanzini e Ramanzzini, o correto na Itália é Zonzin e Ramazzina. Conforme certidões de nascimento os nomes corretos de seus avôs são: SANTO ALESANDRO ZONZIN E ANGELA THEREZA RAMAZZINA,   e em segunda com Domingas Aparecida Piotto, filha de João Piotto e Rosa Piovesan. Faleceu em vinte de março de 1989.

 

Darcy Ferraz de Camargo em seu primeiro casamento com Danyr Zanzini, tiveram dois filhos, e do segundo com Domingas Aparecida Piotto quatro conforme segue;

 

 

 

 

1.     AMAURY HERCULES FERRAZ DE CAMARGO”, casado com Marta Sueli Ceccato;

2.     Lilia Maria Ferraz de Camargo, casada e desquitada de Paulo Roberto Mendes Meibanch do Nascimento;

E do segundo casamento:

1.     Darcy Ferraz de Camargo Júnior;

2.     Eliana Ferraz de Camargo, casada com Admilson Morandi;

3.     Teotonio Ferraz de Camargo, casado com Silvia Helena Durante e

4.     Fernando Ferraz de Camargo.

 

 

 

 

 

 

 

 

   “Amaury Hercules Ferraz de Camargo”

 

 

Nasceu em Jaú, SP em 21 de setembro de 1950, primeiro neto  de Leonildo Zanzini e Maria Percedes Fregolente, sendo também primeiro bisneto de Santo Alessandro Zonzin e Ângela Thereza Ramazzina; Zonzin, procedentes Cerea, região de Verona Itália.   Casado com Marta Sueli Ceccato, filha de Roque Ceccato e Therezinha da Costa, neta paterna de Guido Guilherme Ceccato (filho de Giusepe Ceccato e Anunciata Tolomio)  e Alexandrina Cênamo (filha de Nicola Cênamo e Lavínia Turra), italianos da região de Pádua;  pelo lado materno, neta de Firmino da Costa (filho de José da Costa e Glória Pereira), portugueses da região de Trás-os-Montes, Vila Real,   e Ana Franzão (filha de João Franzão e Maria Mambrina), italianos.   Também procurou não se envolver diretamente em Política. O único cargo de destaque que ocupou,  foi de Vice-Presidente do Conselho Deliberativo e Diretor Presidente de um clube de lazer denominado Caiçara Clube de Jaú.

 

Amaury Hercules Ferraz de Camargo e sua mulher Marta Sueli Ceccato, tiveram três filhos:

 

 

 

1.     Luciana Ferraz de Camargo;

2.     Estevão Ferraz de Camargo e

3.     Daniela Ferraz de Camargo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COMO SE TRANSPORTOU DE Itu PARA JAÚ A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO

 

 

Dos  cronistas do Jaú,  é Sebastião Teixeira o mais antigo e, incontestavelmente, o que merece mais crédito, pois conviveu longos anos com protagonistas de fatos ligados aos primórdios de nossa terra e deles terá ouvido, inúmeras vezes, a narração desses mesmos fatos..

Em sua memória “O Jaú em 1.900”, publicado por ocasião da passagem do século, narra ele a histórica reunião havida em casa de Lúcio de Arruda Leme, na qual ficou decidida a fundação do povoado de Jaú.

A casa de Arruda Leme era, provavelmente, um rancho de pau – a pique , barroteado e coberto de sapé, e situava-se no meio da mata, mais ou menos no lugar onde hoje se ergue o prédio da Associação Comercial e Industrial, na rua Amaral Gurgel , esquina da rua Edgard Ferraz..

         1-) o capitão José Ribeiro de Camargo que, desde...1850, já vivia com a sua família em Iguatemy, como o denominava as terras de que se apossava dois anos antes, em 1848, as quais, seguindo a margem esquerda do Ribeirão Trindade, se estendiam desde a sua embocadura no Tietê até ás cabeceiras, e de onde seguiam pelo espigão, até encontrar o atual ribeirão Itapuí e por este até o Tietê, num total de mais de 5.000 alqueires ;

2-) o Tenente Manoel Joaquim Lopes que, desde 1837 se havia apossado das terras situadas na margem direita do ribeirão São João – no atual bairro de Banharão Velho – desde as cabeceiras até a sua confluência com ribeirão Ave Maria, estendendo-se até as margens do atual córrego da Figueira, que atravessa a parte oeste da cidade do Jaú;

       3-) Francisco Gomes Botão que havia comprado a posse de Antonio Dutra, compreendida entre o rio Jahu , nas imediações da atual estação de Marambaia; e, finalmente, além de Lucio de Arruda Leme em cuja casa se realizava a reunião – dela também  compartilhava Bento Manoel de Morais Navarro, de Itu , amigo e parente do capitão José Ribeiro de Camargo, cuja fazenda do Iguatemy se achava hospedado .

         Durante a reunião o Capitão José Ribeiro de Camargo oferecera terras a margem do Tietê, nas imediações do atual Porto Ribeiro , para localização do futuro povoado, visto que, não havendo estradas nesta região, completamente despovoada e sujeita as incursões dos temíveis índios Coroados, que ainda viviam nas terras da margem esquerda do Tietê, mais fácil seria a comunicação por água com Itu que afora Brotas, com a qual estes se ligavam por trilhos de caça – longo do rio Jahu, - era a cidade mais próximo e da qual dependiam. A proposta redargüíram o Tenente Lopes , Gomes Botão e Lucio de Arruda Leme, alegando que a localização do povoado no Porto Ribeiro não lhes traria facilidade, por ficar muito distante; e que, se haviam abrir um caminho, na mata, até lá, mais prático seria então abrirem um picadão seguindo os carreiros das antas, no vale do rio Jahu, até a Capela de Brotas, que lhes ficava mais próxima do que Itu. O Tenente Lopes e Gomes Botão ofereciam também  40 alqueires de terras, cada um, á jusante do rio Jahu, desde a embocadura do Córrego Figueiras para a localização do povoado. O capitão José Ribeiro de Camargo concordou com essa proposta, ficando decidida então a fundação do povoado, que por se situar a margem do rio Jahu deveria tomar o nome do rio e chamar-se JAHU.

    O Capitão José Ribeiro de Camargo, em virtude dos conhecimentos de topografia que possuía, adquiridos no Colégio São Luiz de Itu, onde estudara ficou incumbido de demarcação da área do patrimônio e de traçar na mataria as suas ruas e localizar as áreas da Capela e do cemitério. Desta tarefa ele se desincumbiu  mais tarde, com a ajuda do Pe. Joaquim Feliciano de Amorim Sigar, que foi o primeiro Pároco de Jahu. Religiosos que eram aqueles ser4tanistas e consoante o costume da época, uma vez acertada a fundação do povoado, mister se fazia dar-lhe um patrono ou uma padroeira. Falou então Bento Manoel de Moraes Navarro   e disse que, havia anos já, ele fizera um voto à Nossa Senhora do Patrocino de Itu, para livrar o seu filho Antonio, perseguido por haver participado como Tenente e ao lado do Padre Antonio Diogo de Feijó, da revolta liberalista de Sorocaba, em 1.842. Havia j[há algum tempo que Antonio se achava refugiado na fazenda Iguatemi do seu parente e amigo Capitão José Ribeiro de Camargo, ali presente, para se livrar das perseguições que então sem ouviam contra as principais cabeças daquela rebelião. Decretada porem a anistia geral dos rebeldes paulistas e também mineiros, por motivos de casamento de Dom Pedro II . Com dona Teresa Cristina, viera ele visitar o filho, mas agradara-se tanto das terras e daquele sertão e, mesmo porque o filho já se achava noivo de dona Maria Justina, filha mais velha do Capitão José Ribeiro de Camargo, assim que ele resolveu aqui comprar uma posse para nela estabelecer o filho . E assim, em agradecimento à Virgem que livrará o seu filho, ele que também já se considera um dos sertanistas do Jahu, - propunha que se tomasse por padroeira do futuro povoado à Nossa Senhora do Patrocínio, e que ele ofereceria a imagem que mandaria trazer de Itu, proposta com a qual todos concordaram. Mais tarde adquiriu Bento Manoel a posse da Fazenda  São João, de Gomes Botão, na qual estabeleceu o seu filho Tenente Antonio Manoel de Moraes Navarro. Voltando em seguida para Itu,la mandou esculpir uma belíssima imagem de Nossa Senhora do Patrocínio, igual a existente no Colégio de Nossa Senhora do Patrocínio, daquela cidade, fazendo-a transportar para a Capela de Jahu, em “Bangüê” (espécie de liteira), pelos escravos que vinham ajudar abrir a posse do São João.

         A Imagem foi carregada ao ombro e seguiu o caminho, ou melhor, seguiu o caminho, ou melhor, o picadão aberto em 1.850 pelo Capitão José Ribeiro de Camargo, ao longo da margem direita do Tietê, quando para ca ele se transferiu com a família. A mulher Dona Thereza Leite Penteado Paes de Barros Camargo, de 26 anos de idade, vinha pelo rio Tietê, pilotando o batelão, em companhia das pretas e crianças, ao passo que o Capitão com quatro homens  pretos, vinha abrindo o picadão, ao longo do rio, desde a cidade de Itu ate o Porto Ribeiro. Foi por esse picadão, que Bento Manoel mandou trazer em bangüê, ao ombro, a Imagem de Nossa Senhora do Patrocínio de Jahu, padroeira da nossa cidade.

Essa imagem, de belíssimo aspecto, esculpida, em cedro vermelho, com olhos de vidro que parecem naturais, recoberta de manto azul, estrelado e peplum vermelho também estrelado, pintdo sobre a madeira e conservando até hoje as cores originais, ampara o menino Jesus no braço esquerdo, tendo na direita o cedro. Mede 1 metro mais o menos de altura num pedestal de mais ou menos 40 centímetros de altura, também de cedro vermelho e no qual se acham esculpidas três cabeças aladas de anjos; pesa ao todo perto de 60 quilos.

         Há muitos anos, ao que parece por voltas de 1.915 ...Vigário, não tendo justa compreensão do valor historia que representava para Jahu essa lindíssima Imagem, substituiu-a no altar-mór da Nossa Matriz, por outra mais moderna e que lhe parecia, naturalmente, mais bonita, relegando aquela para um quarto de despejos na Matriz. Dali foi ela levada pelos fieis  para a Igreja de Santo Antonio desta mesma cidade. Para reparar essa injustiça e essa falta de compreensão do Vigário, para com tão valioso documento histórico, o único que possuímos coevo da fundação da nossa cidade, precioso testemunho de religiosidade e da ardente fé dos nossos maiores nos destinos de nossa terra, para reparar essa clamorosa injustiça, o Prefeito Osório Ribeiro de Barros Neves, retirando a Imagem da Igreja de Santo Antonio Fe-la antagonizar solenemente, n o saguão da Prefeitura Muni8cipal de Jahu no dia 25 de agosto de 1.950. Desde então e dali, da Sua Casam, como disse então o Prefeito, esta ela simbolizando a Virgem Mãe dos Jahuenses e, como mãe solicita, a velar pela grandeza, prosperidade e bem estar desta cidade e desde povo.

 

(Obs.: esta matéria foi copiada na sua integra, do jornal comemorativo do centenário de Jaú, escrita por Osório Ribeiro de Barros Neves, em  janeiro de 1.953)